Conto das terças-feiras - Seguindo um conhecedor de estradas
Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 11 de junho de 2019
Saímos exatamente às seis horas da manhã, como estava combinado. Era dezembro de 1970, quatro meses após o nosso casamento. Estávamos eufóricos, era a primeira vez que faríamos uma viagem de carro tão longa. Acompanhava-nos a minha cunhada, irmã de minha esposa. Em outro veículo, que nos esperava na saída da cidade de Itabuna, o colega de trabalho Pamplona, o nosso guia pela estrada afora, já que ele se dizia conhecedor do caminho. Sua esposa, dois filhos e uma cunhada eram os outros passageiros desse veículo.
Quando nos encontramos na saída de Itabuna, a cunhada do colega passou para o nosso carro, um Fusca 1968, para dar mais conforto à família dele. Ainda não existia a BR 101, teríamos que tomar a BR 116. O primeiro trecho percorrido foi Itabuna X Jequié,180 km de distância, uma parada para abastecer e estirar as pernas, pois viajar em fusquinha apertado nos obrigava a isso. Seguimos daí para Feira de Santana com distância de pouco mais de 250 km. Alcançamos Petrolina, no estado de Pernambuco, 450 km depois, às 17h.
O pernoite foi no Hotel do Grande Rio, em Petrolina, PE. Cansados, mas satisfeitos por termos cumprido o trajeto de 880 km sem incidentes e em onze horas de viagem, jantamos e fomos descansar, pois havíamos acertado em sair no outro dia logo depois do café da manhã, por volta das sete horas.
Na hora marcada, todos com o jejum quebrado, fomos abastecer os carros e seguir viagem até Salgueiro, uns 260 km adiante, de onde seguiríamos até a cidade de Icó, o mapa marcava isso, cuja distância, também pelo mapa, apontava 364 Km. O colega Pamplona sempre tomava à frente, era ele quem sabia o caminho certo, dizia com orgulho. Eu, motorista de primeira viagem em longa distância sempre concordava.
Alguns quilômetros à frente Pamplona tomou a direção à direita. Deu para perceber que o caminho não era aquele. Era uma estrada de terra batida, fazendo o carro dele levantar muita poeira. Tentei fazer sinal acendendo os faróis e buzinando. Ele ia correndo muito em seu carro mais possante que o meu, não ouvia e nem via os meus sinais de luz. Naquela altura eu já sabia que estávamos na estrada errada. Até comentei com as que estavam em meu carro:
— Parece que esta estrada se encontra em construção. Nenhum carro tem passado por aqui. Parei o carro, consultei o mapa, ela não aparecia. Eu até dei um palpite:
— Acho que estamos indo em direção a João Pessoa, pois é a única cidade que aparece aqui. Procurei acelerar mais o meu fusquinha que tremia todo naquela estrada sem asfalto. Depois de percorrermos mais de 100 km encontramos o colega Pamplona parado num beco sem saída, mostrando ar de preocupação. A estrada havia acabado. Meio acabrunhado ele falou:
— Acho que errei o caminho!
— Errou mesmo, não tenho dúvida! Quando você entrou nela eu passei a dar sinais e buzinar para que você parasse. Você continuava a correr, na convicção que estava certo. Agora só nos resta voltar e tomar o rumo correto.
Rimos, para não o deixar constrangido, e pegamos o nosso roteiro. Abastecemos mais uma vez e seguimos em direção a Icó, Russas, Aquiraz e, finalmente Fortaleza, um trajeto de mais de 570 km. Paramos mais uma vez para abastecer e almoçar, uma comida péssima. Mas ninguém se importou com isso, estávamos chegando ao nosso destino.
À entrada de Fortaleza, as garotas que estavam em meu fusquinha saudavam a cidade, cantando Cidade Maravilhosa. Tudo era alegria, o cansaço dissipara-se. As duas cunhadas, a do colega e a minha já marcavam encontro. O destino primeiro era a praia. Minha alegria era maior, pois, pouca distância me separava da família. Eles não sabiam que estávamos chegando, era surpresa. Minha esposa também estava alegre, iria conhecer a cidade onde eu morara por quase vinte anos, junto à minha família.
Passamos umas férias maravilhosas na cidade de Fortaleza. A nossa volta para Itabuna foi tranquila. Retornamos sozinhos, o Pamplona resolvera ficar por mais alguns dias com os seus pais, o que foi do agrado da esposa, dos dois filhos e cunhada. Chegamos a Itabuna, fazendo o mesmo caminho, sem erro, pousando no mesmo hotel, também sem incidente. O nosso descanso foi em nossa casa, com cama arrumada e cheirosa, mérito de minha sogra.