Noites incomuns

Era uma sexta-feira à noite, embora o aspecto chuvoso e a proximidade do feriado tornam-se as ruas mais vazias. Um clima meio sombrio para uns, mas agradável e, por que não, desejável para aqueles que se sentem perdidos na multidão e encontrados em sua própria paz no meio da solidão, ou melhor, solitude, como bem diria Luís.

Enquanto encarava a sua própria solitude, sentado na mesa do bar A lua, Luís pensava no quanto estava cansado e estressado dos casos da semana. É bem verdade que escolhera o "trabalho dos seus sonhos", cumprindo com todos aqueles ideais que via nos seriados policiais e no maior detetive de todos os tempos: Sir Sherlock Holmes. Contudo, ao fim do dia a realidade batia e ele lembrava que era somente um homem trabalhador, cuja fadiga também chega, junto com o estresse amontado pela rotina.

Talvez por isso, precisava se isolar de tudo e de todos. Pra quem olha de longe, parecia um homem solitário a beber sozinho; para outros, poderia estar esperando alguém, afinal na cidade meio vazia como estava não seria incomum, as pessoas se trombarem por algum acaso...

Não que Luís pensasse nisso, mas nessa pequena possibilidade de acaso, poderia haver alguém que lá aparecesse. Entre um gole e outro de cerveja, uma olhada no céu estrelado, eis que escuta aqueles passos que se aproximam com tamanha familiaridade... Quem seria?

- Que cara é essa? Está achando que eu sou fantasma é?

Respira fundo... levanta os olhos pra cima e diz:

- Ah.. olá... A que devo a honra de sua presença no meu humilde retiro?

- Retiro? Por que tá doente é?

- Estou enfadado mesmo. Às vezes, preciso tirar um dia de folga de tudo pra respirar um pouco...

- Isso explica porque não respondeu nenhuma das minhas mensagens mais cedo...

- Voilá...

- Engraçado...

- E você o que faz por essas bandas? Veio encontrar alguém?

- Sim, a Joyce. Ela está com problemas no casamento.

- Foi traída de novo?

- Antes fosse. Jaime está com câncer de estômago.

- Nossa, que merda...

- Pois é. Aí vim dar um apoio para ela.

- Bem a sua cara, embora esse não seja o melhor lugar para acolher alguém...

- Por que está meio isolado? Talvez, por isso que ela o escolheu...

- Implica dizer que você terá trabalho, Letícia, mais do que imagina...

- Essa é a minha função não é?

- Achei que fosse viajar com aquela companhia húngara de Balé...

- Ah, aquilo não deu muito certo. O professor assediava todas as novatas.

- E você saiu sem fazer nada? Isso não parece nada contigo...

- E eu lá sou mulher de deixar as coisas desacertadas? Eu observei e fui juntando provas...

- Montando um dôssie? Realmente, você está andando demais comigo...

- A gente tenta aproveitar o que é bom não é?

- Hehe... verdade... se possível, gostaria de apurar esse dôssie.

- Tá com medo de que eu faça besteira é?

- Medo, curiosidade, torcida, um pouco de tudo pra falar a verdade.

- Gostei da sinceridade, vou pensar no seu caso. Agora, tenho que ir meu bem, Joyce acabou de chegar...

- Pense nisso como uma parceria de trabalho.

- Tá certo, deixar-te-ei em paz.

E assim se foi, deixando Luís absorto em seus próprios pensamentos , curioso pela sua iniciativa e com dificuldade em assimilar o que havia o que acabara de acontecer.

- Ah, maldita, só ela para interferir na minha solitutde, finalizara enquanto olhava o e-mail para lembrar do caso do assediador anônimo da zona sul...

O Andarilho

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 31/05/2019
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