Quarta de despedida
A mãe dele havia morrido. Talvez não haja pior sentimento de que a morte da mãe. Deve ser o momento em que o homem olha para o lado e percebe que está sozinho, sem ninguém, perdido e por mais que você se cerque de outras pessoas, a certeza da solidão é absoluta.
O sol descambava por trás de uma figueira que ficava no outro lado do cemitério. Um pastor falava algumas palavras de fé e tentava em vão confortar a família. É a tarefa mais inútil, pois, não há em nenhuma palavra que seja capaz de confortar o coração daqueles que são obrigados a se despedir para sempre das pessoas que amam.
A irmã estava se apoiando em seu braço e ele seguia ereto, olhando para o horizonte, tentando buscar qualquer coisa que lhe rendesse uma recordação da mãe, mas elas não vinham.
Quando seus olhos e mente voltaram para as pessoas que se aglomeravam em volta da última morada de sua progenitora foi que ele a viu. Era ela. A mulher da sua vida. Não a mãe, mas aquela que o havia abandonado a poucos dias.
Ela vestia preto e estava parada olhando para o caixão. É claro que ela viria se despedir, pois, ela e sua mãe sempre se deram bem, tinha dias em que ele sentia que ele era o genro e ela era a filha, tamanha era a afinidade entre as duas.
Ela tinha lhe deixado no domingo e ele a tinha procurado intensamente, mas não tinha conseguido nenhuma notícia e agora ele estava diante dela. Sentia dentro do coração que ainda a amava, mas naquele momento era um homem quebrado, daqueles que não conseguem mais entender seus sentimentos
Fixamente ele olhou para ela que fez um leve gesto com a cabeça do tipo de quem estava ali se ele precisasse e naquele momento, de tão profunda dor, não tinha ninguém que ele quisesse mais do que ela. Ele precisava dela. Ela sabia disso.
Depois do enterro ele a procurou. Ela estava conversando com algumas pessoas, quando ele se aproximou ela o abraçou fraternamente. Ele sentiu o calor do abraço dela e a sinceridade de seus sentimentos. Aquilo, de certa forma, tudo o que ele precisava.
“Você vai para casa comigo?” Ele perguntou. “Não. Entre nós? Acabou!” Ela respondeu, enquanto caminhava em direção a saída do cemitério.
Ele queria gritar, chorar e implorar para que ela ao menos lhe dissesse onde ele havia errado para que assim pudesse tê-la nos braços mais uma vez e viver a vida que ele sempre sonhou, mas não fez nada disso. Ao invés disso ele ficou ali parado olhando enquanto ela diante do portão de saída aguardava alguém que certamente lhe viria buscar.
Um carro preto parou em frente e ela entrou pela porta de trás. Era um desses carros grandes que a gente somente sabe o nome se caminhar até ele e olhar atrás para lê-lo. Carro de magnata, ele pensou.
O carro andou até a outra ponta e fez a volta. Depois lentamente ele se dirigiu para a saída do cemitério passando novamente pelo seu raio de visão. A janela aberta lhe rendeu uma imagem perfeita e ele quase não acreditou quando viu que o homem sentando no banco de trás ao lado dela era o seu ex-chefe.
Por um instante ele não soube o que pensar. Por uma fração de segundo ele tentou lembrar de onde eles se conheciam, mas nenhuma possibilidade saltou à sua mente.
Aos poucos o sentimento de perda misturado com o sono de quem passou a última noite acordado e o luto de quem tinha acabado de perder a mãe começava a se transformar em uma raiva que ele não conseguia controlar.
Tirou o telefone do bolso e pôs o número dela para chamar, mas ela não atendeu. Ele foi até o aplicativo de mensagens e enviou: “Por isso você me deixou?”...Aguardou alguns instantes enquanto o aparelho dava o demonstrativo de que a mensagem tinha sido visualizada e esperou pela resposta que não veio. Não precisava. Ele já tinha entendido.
Era chegado o momento de se despedir e então ele voltou e parou aos pés de sepultura e começou a chorar. Agora sem discrição ou medo. Ele chorava como uma criança enquanto todo mundo olhava para ele.