APENAS NUMA MANHÃ

O alarme soou nos meus ouvidos como grito de uma velha chata que me levantou as pressas. Pulei da cama como um gato assustado. Corri em direção à cozinha, escorreguei no corredor, bati a patela no chão e sai cambaleando de quatro. Cheguei à cozinha tentei preparar o café, coloquei no fogo e acabei esquecendo e o café derramou no meu fogão velho. Praguejei contra deus e o mundo.

As torradas queimaram, viraram tições pretos, a fumaça tomou conta da cozinha. Tirei à torradeira da tomada as pressas e joguei as torradas num prato…

Corri para a geladeira e peguei uma caixa de leite, despejei o leite num copo, acabei esbarrando na mesa que derrubou o copo quebrando-o, e vi o leite correr pelo chão amadeirado.

Não dei muita importância a essa discrepância, olhei para o relógio na parede e faltarão cinco minutos para às sete, peguei o meu terno e minha pasta. Andei as pressas em direção à porta, dei meia volta e ajustei minha gravata, penteei o cabelo. Dei um sorriso, estava ótimo para a entrevista.

Abri a porta, e fui abordado por um vendedor de balas, tentei despachá-lo, sua insistência me causara pena, comprei algumas balas, deixei-o com o troco. Caminhei rapidamente na calçada, esbarrei em um senhor de camisa listrada e barba por fazer, me chamou de filha da puta, talvez eu seja mesmo, nunca conheci minha mãe. Não dei muita importância, continuei caminhando na calçada e duas moças bonitas passaram por mim, uma deu um sorriso primoroso à outra cochichou algo, sorrindo. Retribui e continuei…

Cheguei num cruzamento de rua, o sinal estará aberto e uma velhinha cega com uma bengala passara direto, segurei-a pelo braço e ela disse “solte-me seu pervertido” me acertou com a bengala no rosto, não consegui desviar. O sangue desceu da minha testa, limpei e tentei segurá-la de novo a velhinha, mas desisti, o sinal abrira a tempo. Atravessei a rua, na esquina tinha um banco e quando passava em frente, um homem saca uma arma e atira em algumas pessoas na fila do caixa, corri desesperado batendo o pé na bunda. Enquanto corria com medo ouvia de longe o som da sirene da polícia. Parei para respirar, olhei o relógio no pulso, estava tremendamente atrasado para a entrevista. Passei por um beco estranho e um cara tentava agarrar uma mulher a força com uma faca no seu pescoço. Parei e fiquei olhando, olhei para o relógio. Corri em direção ao beco, o homem robusto careca me fitou, soltou a mulher e mirou a faca para mim. A mulher correu assustada e chorando deixando cair à bolsa rosa. A viatura da polícia chegou ao beco tão rápido que mal pude acreditar. Os policiais empunharam suas armas na minha direção e na mira do careca. Gritavam para me abaixar e pôr as mãos na cabeça. Obedeci, o careca também, o chão estava podre, fedia a mijo e a coco de gente por toda parte. Fui levado para a delegacia injustamente algemado. A moça da bolsa rosa prestou queixa e dissera que eu estava junto do careca tentado mata-la, ou sei lá o que ela disse a eles. Fui liberado em seguida depois que esclareci tudo. Sai da delegacia, olhei para o relógio. Pensei em desistir, mas continuei a minha desculpa seria muito boa. Estava, mas que longe do meu destino, passei em frente a uma loja de eletrodomésticos e noticiavam que dois aviões se chocaram com duas torres gêmeas em algum lugar. Olhei por tempo, era aterrorizante toda aquela fumaça e pessoas correndo e fugindo do seu tumulo. Continuei direto para o metro, desci as escadas e não havia quase ninguém, um senhor pedia esmola no canto de uma coluna, passei e deixei algumas moedas. Sentei no banco do metro e olhei para a tela acima que ainda noticiava sobre as torres, pus as mãos nos bolsos e refleti sobre a manhã. Oh! E que manhã.