Sobre o céu
Jacob Britton passava a maior parte de seu tempo lendo nas sombras calmas de uma grande árvore profundamente enraizada a alguns metros do campus de sua universidade, mas não havia sempre sido assim. Houve uma época na qual não se interessava muito por palavras, conceitos ou ideias. Apenas vivia aventura após aventura mergulhado em álcool e mulheres de índole duvidosa. Se alguém perguntasse, ele não saberia dizer por que havia mudado. Por que subitamente livros de filosofia passaram a interessá-lo, por que pensar nas coisas havia passado a fazer sentido. Ele havia abandonado tudo, as festas, as bebidas, a diversão e, ele gostaria dizer, a leviandade. Mas depois de apenas algum meses ele havia percebido que não havia real diferença entre o que fazia antes e o que fazia agora, pois no fim de tudo, quando retiramos o pano enfeitado com rendas, quando retiramos as cores, quando rasgamos a pele e a carne, quando enfrentamos o medo, ou ele simplesmente nos abre os olhos com um tapa na cara, tudo o que vemos são ossos. Brancos, lisos perfeitos.
E este não é o fim.
Os ossos também desaparecem, sua existência é tão efêmera quanto uma bolha de sabão. O que sobra no final é apenas pó. Palavras, conceitos, filosofia, orgias, beijos, amor, ódio, roupas, casas, bandeiras, ideologias, patriotismo. Tudo um gigantesco amontoado de pó, encerrado no âmago dos seres humanos, e Jacob tentava compreender, de todo coração, o medo das pessoas do vento que eventualmente viria para levar tudo isso embora.
Para que tantos alicerces? Para que tantas convicções? Para que a alma? Como alguém pode passar uma vida inteira tentando preencher algo inexistente? Como alguém pode afirmar tê-lo feito? Como tolos podem acreditar? Como um simples homem pode criar um rebanho de milhões sob um pedaço de pano chamado bandeira? Como um homem pode enriquecer até vomitar notas sujas em um carpete de veludo apenas sob a crença em uma entidade muda, invisível e ausente?
Jacob havia lido sobre gurus espirituais e seus ensinamentos sobre como se livrar do ego, de se livrar de si mesmo, das necessidades mundanas, das bandeiras, do dinheiro, das entidades. Mas tais tentativas não revelavam um ego especialmente gigantesco? Não revelam uma grande quantidade de si em si mesmo precisando de apreciação e reconhecimento?
A namorada de Jacob, Candice, subia a pequena colina em sua direção. Sim, ele possuía uma namorada e ela sempre sabia como encontrá-lo. O vento de fim de tarde balançava de maneira preguiçosa as folhas e seus longos cabelos loiros, e Jacob se sentia especialmente chateado sobre os pensamentos que cruzavam sua mente enquanto a olhava sorrir de longe. Ele imaginava o que havia por baixo, mas não da maneira como a maioria dos homens imaginaria. Sim, ele retirava suas roupas com a imaginação, mas isso não era o fim. Retirava sua pele, retirava seus músculos, até ver apenas os ossos. Imaginava o crânio por debaixo dos olhos azuis, dos lábios meio abertos, de suas bochechas rosadas. Imaginava tudo aquilo virar pó e ser varrido, e a noção de tempo abarcava sua mente num abraço indesejado. Não havia beleza no efêmero, não havia beleza em lugar algum, pois nada era eterno.
Jacob olhou seus pequenos sapatos rosas amassando a grama e um pequeno sentimento de nostalgia irrompeu em seu cérebro. Ele não fez esforço para rechaçá-lo, pelo contrário, o saudou como um substituto aceitável para todo aquele alvoroço em sua mente. Jacob olhou uma última vez. Ele tinha pena de Candice, tinha pena de seus sapatos rosas e seus cabelos loiros. Jacob tinha pena de si e de todo o resto. Apenas pó esperando para ser varrido pelo vento vazio da ausência de sentido.
- Olá, Jake - disse Candice, um pouco ofegante devido a subida.
- Olá, Candice - respondeu Jake com seu sorriso honesto e encantador.
- Vamos para casa?
- Por que não se senta um pouco, meu amor?
Candice sorriu.
- Você não pretende me ensinar sobre esses livros estranhos que lê, certo?
Jake sentiu-se realmente feliz pela pergunta, sem saber muito bem por que.
- Não, Candy, quero apenas sentir o vento e seu corpo contra o meu nesse momento tão belo para que eu possa me recordar disso daqui a anos, quando talvez a vida não seja tão agradável quanto agora.
Candice deu uma risadinha muito graciosa.
- Você é estranho às vezes, Jake.
- Nunca se sabe, querida. Nunca se sabe quando veremos outro céu como este.