A torre

Não sei precisar quando foi. Talvez aos quinze ou vinte, sinceramente, não sei. Contudo, sei que um  sentimento de encarceramento sempre persegue as almas em ebulição. Um descontentamento que sufoca a garganta. Uma sensação de não pertencimento. "Tem que esperar o momento certo." - amigos diziam. "Isso não é para você!" - familiares desmotivavam. Entretanto, mesmo que aquela chama tenha se tornado apenas uma faisca ao longo dos anos, ela ainda estava lá. Só esperando. 

Creio que haja um grupo de inúmeras desconhecidas, espalhadas pelo mundo, que abrigaram a inconformidade dentro de si. Não foi diferente comigo. Gestei-a e amamentei-a como a uma criança desnutrida que carecia de atenção. Cumpri os ritos, os códigos, os dogmas, preceitos e preconceitos de um roteiro pré determinado de uma geração. Fugir, seria suicídio social. Não estava preparada para isso. Construir castelos na mente é fácil. Uma rota de fuga para os dias de desespero.  Porém, chega uma hora em que a coleira fica apertada de mais, sufocando e impedindo a respiração. O castelo da mente fecha seus portões e já não conseguimos fugir para lá. É exatamente a hora em que devemos nos libertar. 

Para as que não foram criadas em palácios e protegidas em torres de cristal, um quarto com banheiro é mais que o bastante. Não há nada como o preço da liberdade, de fugir das estatísticas nefastas e tão previsíveis. Quando jovem, sonhava com meu castelo. Adulta, tive que escalar a torre pelo lado de fora. Hoje, sou a dona do palácio.

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Rose Paz
Enviado por Rose Paz em 15/05/2019
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