A BREJEIRA
Após a morte do pai querido e de ter a terra hipotecada, Marilda abandonou a enteada no Orfanato Dom Ulrico na Capital. Aquela criança não tinha nenhuma significância para ela. A única razão de sua vida acabara de morrer de infarte aos "pés" de alface tão queridos. Ela não tivera remorso e partiria para um destino desconhecido. A criança de sete anos sabia apenas que se encontrava na Capital e que a sua única irmã fora doada a uma família abastada. No orfanato foi cuidada pelas freiras até os seus 15 anos. Lá aprendeu muitas orações, mas também a fumar cigarro. Na década de 50 era um luxo alguém portando cigarros. Quando a brejeira estava perto dos 15 anos conheceu um rapaz maravilhoso que convenceu a ela e as freiras de que seria um marido ideal para aquela adolescente fumante. O casal fora morar na cidade baixa. Mas após 6 meses o rapaz sofreu um choque elétrico e morreu. A brejeira ficou sozinha, mas logo conseguiu um trabalho de doméstica na casa do famoso advogado Marcos Aragão. Esse advogado morava em um palacete na Feliciano Filho e a sua esposa carregava uma história triste de tentativa de suicídio. O casal brigava muito mas com a chegada da adolescente mudou a sua triste rotina. Aquela brejeira tinha um bom humor e agradava a todos. Após dois anos, as brigas do casal acabaram em tragédia. O famoso advogado assassinou a esposa com um tiro no peito e foi preso. A brejeira teve que sair do palacete e foi morar em um quitinete no bairro Cordão Encarnado. O aluguel era alto, mas logo a brejeira conseguiu trabalho e uma amiga para dividir as despesas da humilde residência. Ela agora trabalhava em um bar na praça 1817 e lá conheceu um novo amor que após 3 meses passou a morar com aquele belo moreno chamado Agenor. A união com o moreno proporcionou uma gravidez que causou muita alegria para a brejeira. Mas o moreno Agenor foi embora antes do nascimento do bebê. A chegada de uma criança morena alegrou a brejeira que viveu momentos de felicidade após um difícil parto. Mas a criança fora levada por um casal desconhecido da maternidadr com a conivência de uma enfermeira. Após a saída da maternidade, a brejeira procurou, em vão, a sua filhinha querida, mas não obteve sucesso. Então voltou a trabalhar no mesmo bar da 1817. A outrora brejeira alegre deu lugar a uma pessoa de um semblante fechado. Mas tudo mudou após a chegada de um novo personagem em sua vida. Dom Genival chegara do sertão acompanhado de sua pesada mala de madeira. Aquele seria o novo companheiro da brejeira. O terno branco e o cabelo devidamente penteado com brilhantina "Zezé" encantou a brejeira que agora tinha as suas tardes de domingo devidamente preenchidas com os passeios na orla. O companheiro ideal chegara finalmente em sua vida cheia de tragédias. A década de 60 viria a ser o "auge" da brejeira que pôde iniciar de vez a sua vida sem percalços e perdas. Agora aos 74 anos bem vividos, a brejeira, já viúva, detém 06 filhos, e quatro netos. Ela tem ainda um patimônio bem sólido que proporciona uma vida saudável em sua fazenda na cidade de Bananeiras de onde saiu em 1956. E agora sentada em sua varanda relembra que, naquelas terras, cultivou junto com o seu querido pai um "roçado" dos alfaces mais deliciosos do lugar. Agora sim ela está paz. Nota do editor: Através da ficção podemos mudar o destino das personagens, mas na vida real, infelizmente, isso é impossível. Nesta história encontramos fatos reais, mas em sua maioria trata-se de pura ficção daquilo que poderia ter acontecido. Parabéns aqueles que tem mãe e festeja um domingo dedicado a esses seres maravilhosos.