SINGER
Singer
Minha mãe tinha uma máquina Singer. Dessas antigas. De pedal. Preta. Desde a mais tenra infância lembro-me do barulho que fazia seu pedal em movimento. Tarde da noite, cansada da labuta diária na casa e na roça, lá estava Dona Chiquita, costurando sonhos. Com pedaços de chita, algodão, ou uma peça bonita estampada, que o pai comprava nas Pernambucanas, quando a colheita de feijão, arroz ou café era farta, triiiiiiii, e, em algumas horas, o nosso vestido , a calça dos meus irmãos, um remendo na calça de trabalho do meu pai, tudo nos trinques, do jeitinho que pretendera e idealizara. Quando mudamos para a cidade, meu pai desempregado, a mãe de minha amiga Nilza, Dona Mercedes, também costureira, arranjou um bico para ela com um português dono de uma fabriqueta de camisas que ficava depois da linha férrea, na Benjamin Constant, perto do Armarinho Paulista. Pagava uma tutameia, o explorador, mas a ajudava a comprar o leite, os nossos guarda-pós, material escolar e sapatos. Havia tardes que seguiam noites adentro, em que ela chegava a costurar mais de 50 camisas. Era um trabalho exaustivo. Acabava com sua coluna, mas extremamente necessário. E, pra ela, prazeroso, porque em tudo que fazia havia uma pitada generosa de amor. Assim ela costurava camisas, e vestia em nós, o senso do trabalho, responsabilidade, honestidade, valores necessários para o sucesso na vida. Nossa primeira professora, coach? foi ela.