UM OUTRO PONTO DE VISTA

O sonho de toda pessoa que sofre é livrar-se do sofrimento, algumas sem medir as consequencias, buscam uma solução trágica para o fim de suas angustias, a vida muitas vezes trai nossas expectativas...

há uma tempestade que se propaga adiante dos olhos de quem não visualiza uma saída para seu estado aflitivo, uma sombra enegrecida por tras do sol...

Profundamente abatido e cansado da Vida que levava, Pedro guardou algo numa mochila, despediu-se do filho de 5 anos com um beijo terno no rosto, olhou nos seus olhos beijando-lhe a fronte.

Para a esposa com quem vivia um conflito há algum tempo, apenas acenou meio sem jeito com um olhar melancólico.

ela arrumava suas coisas, a separação era inevitável. Por anos Pedro se embrenhava em jogatinas e quase sempre perdia tudo que tinha, chegava em casa tarde, já no limiar das madrugadas; perdia muitas vezes a hora do trabalho, estava se desgastando ao limite, na esperança fugás de recuperar o que havia perdido.

Recentemente havia perdido o emprego, ele que era programador de computadores, trabalhava para uma empresa de pequeno porte que não suportando mais suas faltas e atrasos o mandara embora há dois meses, desde então nenhum serviço surgira.

Pedro havia passado a beber, a situação havia ficado difícil demais, a mulher agora era quem trabalhava e sustentava a família, ele vivendo em bares a maior parte do seu tempo, uma dor desmedida havia-lhe tomado de assalto, ele por vezes se perguntava, porque será que todos o julgavam um inútil, ponderava que se aproximava o momento de por um fim naquela situação, mas como? Entregue ao alcool, não conseguia vencer seu laço, sua tristeza premente era como um fogo a atiçar seu vício. Havia perdido toda credibilidade devido as mazelas que fizera, o que fazer então?

Pedro seguiu a rua larga e arborizada que conduzia ao cemitério, já não conseguia ver nada a sua frente, estava resoluto. Era então uma tarde de sábado. Acercou-se do cemitério que estava aberto, adentrou os portões e seguiu adiante, entremeando-se entre túmulos...

Caminhou por alguns minutos entre lápides frias, uma lágrima cortando o rosto.

Pesaroso ele respirou profundamente, sentou-se e se pôs a olhar ao redor, tudo que via eram túmulos, alguns bonitos, célebres, alguns pintados, outros ainda na terra. Difícil seria mensurar todas as coisas que se passavam em sua mente...

A noite caiu rapidamente, fria e escura, Pedro recostou-se numa lápide coberta, não tinha medo algum, apenas observava aquele cenário tétrico e sem vida..

Havia algo em comum em todos, desde os mais simples aos mais ricos, ali jaziam pessoas de todas as classes, ninguém prevalecia sobre ninguém, a morte imperiosa sorria sobre todos.

Distante de seu lar e parentes, não haviam motivos pras suas frustrações, não tinha ninguém que viesse culpa-lo. Recebeu uma mensagem da esposa:-chegou uma carta importante pra você, deixei sobre a mesa estou indo para a casa da mamãe passar o fim de semana. Pedro sentia... O coração parecia bater descompassado...

Sentindo-se resoluto, abriu a mochila e retirou dela um revólver, calibre 38 que brilhava a luz prateada da lua,havia um silenciador na ponta da arma, logo, abriu o tambor, haviam algumas balas. Fechou novamente o tambor, girando-o. Havia o emprestado de seu melhor amigo, um agiota.

Sem prêambulos, apontou para a própria cabeça, na têmpora, sentiu a ponta do cano frio tocar sua testa.

Seus pensamentos viajavam numa velocidade impressionante, como um filme em rotação acelerada, Tomando coragem puxou o gatinho!

um clic seco cortou o silencio da noite, nada aconteceu!...

Passou a contemplar a arma, seu brilho fosco, girou novamente o tambor, mirou no tronco de uma arvore ressequida, atirou! O tiro saiu e bala ficou encravada na arvore, abrindo um buraco! -que azar pensou! Podia ter acontecido comigo!

Sentiu o cheiro forte da pólvora na ponta da arma, tentou acionar o gatilho outra vez, mas suas mãos pareciam trêmulas, desalentado acabou caindo no sono...

O dia já estava amanhecendo, eram 5:15 da manhã quando ele

ouviu ao longe um som de uma musica que entoava:- Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem... Talvez houvesse sido apenas um som que ecoasse no seu interior. Uma antiga musica de sua época de juventude. Lembrou-se dos amigos da época, da mãe ainda viva, do tempo bom que passou sem deixar rastros.

O tempo é sorrateiro como um inimigo que apenas observa de longe sua derrota e sorri...

Lembrou-se também de um amigo cristão que sempre lhe exortava a conhecer a biblia, e nisso ele lembrou-se de uma passagem bíblica:

Jesus disse aos seus discípulos: -Lázaro, nosso amigo dorme, mas vou desperta-lo do sono...

Pedro olhou em volta meio assustado, todos alí ao seu lado estavam dormindo no sono da morte!

Algo atemorizante tomou-lhe de assalto, estava perdendo tempo em devaneios, tinha que acabar logo com aquilo.

Novamente colocou a arma na têmpora, imagens de sua vida novamente se formaram, mas inevitavelmente passou a refletir nas palavras de Jesus..." vou desperta-lo do sono!" Colocava-se agora diante de uma outra realidade, ele viera para lá, pensando em ser como um deles, afastar-se da angustia e tristeza, mas ali vislumbrou algo novo.

Cada um ali tivera sua história, certamente uma história de lutas, um dia Jesus voltaria para despertar todos do sono da morte e o que aconteceria a ele?

Todos os merecedores ressurgiriam, certamente ele não estaria entre eles, um frio intenso tomou sua alma...

histórias de vidas são feitas de condutas e lutas diante de situações adversas. Pedro vislumbrou o erro que o fazia seguir aquela trilha de fracassos.

Sua conduta era a de uma pessoa frustrada, recheada de intemperança, sem fé e esperança.

Sua vida mudaria certamente com mudanças significativas nas suas atitudes.

Um sorriso percorreu seu rosto, mirou novamente na arvore, o tiro saiu...

Uma hora depois Pedro chegou em casa, sentiu o cheiro do café, era uma manhã ensolarada de domingo.

Estranhou o cheiro do café, não havia ninguém em casa...

A porta estava entreaberta,Pedro entrou sem fazer barulho, na pia sua esposa adoçava o café.

Pedro perguntou:-não disse que iria passar o fim de semana com sua mãe? Ela baixou a cabeça dizendo:-Se eu pudesse te esquecer realmente iria, mas não, eu não consigo, precisamos de uma chance pra ser feliz, só uma... Pedro abraçou sua esposa com carinho explicando-lhe o acontecido, ela um tanto desconfiada mostrou-lhe a carta, era de uma empresa famosa. Ele disse: -Certamente é uma cobrança, mais uma! Sua esposa retrucou: - Leia!, como pode saber se nem leu a carta?Pedro leu-a e enfim surpreso começou a chorar:- M-mas é uma convocação, eles querem que eu faça o teste na empresa! Querida, prometo que de agora em diante tudo será diferente prometo! As lagrimas cobriam seu rosto, seu filho veio correndo abraça-lo:

-Papai o senhor voltou!

...

Anos mais tarde com a vida estabilizada, Pedro reencontrou seu amigo cristão, fizeram progresso e ele veio a se batizar, Pedro complementou sua alegria, agora servindo a Deus.

Tempos depois indo ao cemiterio por ocasião da morte de um parente, Pedro avistou ao longe a arvore em que ele dera dois tiros, chamou a esposa para vê-la, ao aproximar-se da arvore viu que nas duas fissuras das balas haviam plantado duas orquídeas roxas magníficas, a árvore ressequida agora também tinha vida... No mesmo buraco em que pairava morte, hoje existia vida. Pedro chorou.

Fim

Mario B Duran
Enviado por Mario B Duran em 05/04/2019
Reeditado em 05/04/2019
Código do texto: T6616471
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