Sim! Valeu A Pena Pierre! (ParteI)

É início de outono, e aquele belíssimo pôr do sol, que mais parece estar como que repousando mansamente por trás daquela cordilheira de verdes montanhas, anuncia o fim de mais um dia. E naquela bucólica cidadezinha serrana do sul do país, quando chega o entardecer, se descortina diante dos olhos estasiados de quem contempla naquele horizonte azul um dos mais belos fenômenos da natureza; um cenário caleidoscópico, onde o multicolorido das flores campestres se mistura com o dourado das folhas que caem das árvores frutíferas que povoam aquele vasto pomar, que por sua vez, exala um doce e suave perfume, numa perfeita alquimia da natureza, proporcionando um cenário de beleza inimaginável; cenário que serve de moldura para aquela bela obra criada por mãos humanas; um casarão em estilo colonial, cirurgicamente encravado no cume daquele aprazível monte.

Esparramando-se pelo chão, aquelas folhas douradas movem-se de um lado para o outro ao sabor de uma dolente brisa, e iluminadas por tênues raios daquele sol que preguiçosamente se põe por trás os montes, mais parecem serem pétalas de ouro.

Enquanto isso, lá do alto daquele monte, a imponência daquele belo casarão, que foi construído no início do século passado, está de tal forma incluída na paisagem, que até se confunde com o traçado geográfico da região, podendo ser visualizado de diversos ângulos, a quilômetros de distância. Qualquer um desavisado que o observe assim, de longe, é levado a pensar que se trata apenas de mais um desses estilosos hotéis ou resorts, construídos e apropriados para receber turistas ilustres e ricos, que desejem desfrutar das belezas naturais daquele aconchegante ambiente campestre. Mas aquela bela e imensa propriedade é na verdade uma casa de repouso, onde algumas dezenas de idosos têm o privilégio de lá viverem os últimos dias de suas vidas. Mas será que são realmente privilegiados? Talvez sim, talvez não... É bem possível que muitos daqueles que ali se encontram preferissem estar até em um ambiente mais simples, sem tanta pompa, mas juntos de seus entes queridos, sentindo o calor humano a aquecer o ocaso de suas vidas... Mas certamente esse não era o caso de Jean Pierre, ou simplesmente Pierre, como era mais conhecido naquela região. Pierre já vivia ali há cerca de sete anos; ele tinha noventa e dois anos quando, por livre e espontanea vontade -como faz questão de frisar- 'mudou-se' para a sua nova residência, e dizia sentir-se muito feliz. Pierre é hoje um 'quase centenário', pois está com noventa e nove anos, e usa um andador para ir a todos os lugares, pois costuma dizer que 'não anda lá muito bem das pernas'... É certo que por diversas vezes já lhe propuseram o uso uma cadeira de rodas; tem até umas motorizadas que são muito práticas, aconselhavam... Cadeira de rodas? Nem pensar; diz ele meio que bravo, e completa: -Ainda não sou aleijado! Mas na verdade ele não é nada bravo, pelo contrário; é um sujeito muito dócil e carismático, e dificilmente poder-se-ia encontrá-lo de mau-humor; é a alegria em pessoa, que traz sempre estampado em seu rosto um largo sorriso e tem sempre uma palavra amiga para quem dele se acerca para uma conversa.

Continua...