Clarinha e Juninho (Parte II)

Foi uma manhã maravilhosa para todas aquelas pessoas que ali se confraternizavam. E já à tardinha, quando todos juntavam suas tralhas, se preparando para retornar, a mãe de Clarinha notou que ela estava simplesmente imunda; coberta de lama dos pés à cabeça, olhando para o lado viu que Juninho ainda parecia estar em pior estado; rindo muito daquela situação, as mães dos pequenos decidiram levá-los até a margem do pequeno riacho que havia nas proximidades para lavá-los. E assim fizeram. Mas quando se aproximaram da margem e escolheram uma pedra para se apoiar, a pedra escolhida estava solta e tombou com todos, atirando-os naquele pequeno córrego. O córrego era raso, a água não chegava à altura das canelas, mas aconteceu que com a queda, Clarinha bateu com a cabeça em uma pedra pontiaguda que lhe perfurou a fonte. Desesperada as mães das duas crianças gritaram por socorro. Rapidamente chegaram alguns homens que, desnorteados, não sabiam o que fazer. Na verdade, nada mais havia a fazer; Clarinha jazia sem vida: estava morta. Foi um desespero total. Atônito, Juninho que a tudo presenciara estava mudo; não chorou, não disse uma palavra, emudeceu diante daquilo tudo... Foram tomadas todas as medidas necessárias para aquela situação, e aquela alegre excursão acabou terminando de forma trágica, principalmente para os pais da Clarinha...

Tendo se passado uma semana após trágico acidente, lá estava o Juninho na pré-catequese. Mas naquele domingo ele estava diferente, muito quieto, o que não era nada normal para aquele menino, sempre irrequieto. Ele estava muito pensativo, o que era menos normal ainda. Julgando que esta sua nova atitude fosse motivada talvez pela saudade da Clarinha, a sua amiguinha inseparável, uma das 'tias'; a dona Zuleika, abraçando e acariciando-lhe os cabelos perguntou baixinho: -Filhinho, você está assim tristinho por causa da saudade da sua amiguinha Clarinha? Não fica triste não, ela está nos braços do nosso Papai do Céu, ela está muito bem lá com Ele! Julinho não falava nada, apenas ouvia... Foi então que apareceu o padre Afonso, que naquela manhã de domingo não estava celebrando a Missa e resolveu dar uma espiadinha naquela turminha. Ele já sabia do acidente que havia vitimado a Clarinha no domingo anterior; sabendo também que ela era muito amiga do Juninho, se aproximou dele e disse: -Coragem Juninho, você não costuma dizer que é o He-Man, que é forte e corajoso e que não tem medo de nada? Vamos, vamos nos animar, cabeça prá cima, deixa a tristeza de lado!... E foi então que o Juninho falou: -Não tô triste não padre; vê não tô nem chorando... O Padre esboçando um sorriso, disse: -Ótimo, assim é que se fala; porque Deus, que é nosso Pai, não quer ver nenhum de seus filhos tristes, e nós somos filhos amados de Deus! Foi aí que Juninho olhou fixamente para o padre, e com um ar bem sério disse: -Ah, é? Então o senhor que dizer que os pais da Clarinha não são filhos de Deus, porque estão quase morrendo de tristeza por ela ter morrido. E ela também então não era filha de Deus, porque aqui na catequese as tias dizem que Deus manda os seus anjos para proteger a gente que ainda é pequeno e não sabe se proteger sozinho... Ela também falava sempre isso para mim, padre. Mas, cadê os anjos de Deus que não fizeram nada quando a Clarinha caiu daquela pedra, hem? Cadê eles padre? Será que Deus não mandou eles pra proteger a Clarinha, que era uma menina tão boazinha? E desandou a chorar...Era um choro tão convulsivo e comovente que as catequistas que ali estavam junto ao padre também choraram... O padre não disse uma única palavra; tomando Juninho no colo, envolveu-o com um forte abraço, e simplesmente chorou ...

Certamente ele não encontrou as palavras certas para aquele momento, porque simplesmente não havia o que dizer; afinal de contas, ainda não criaram respostas plausíveis para perguntas 'irrespondíveis"...