A GAROTA DO BLUSÃO LILAS
“A GAROTA DO BLUZÃO LILÁS”
O homem apressado caminha na avenida úmida e cinzenta, envolto em pensamentos , ele divaga acontecimentos efêmeros daquela Borges efervecente e nua.
Era uma tarde relativamente fria e o sol de Agosto vez por outra saia de tráz das nuvens carrancudas e dava uma leve espiada naquela gente que caminhava na avenida tal qual formiga, pessoas que andavam apressadas, que nem o homem solitário naquela avenida cinzenta.
Enquando o homem caminha, aliás: flutua na longa rua cinzenta e fria, seus pensamentos o levam a um porto mais alegre do que o de agora, pois embora o nome seja sugestivo, ultimamente é um porto nada alegre, sei lá se tem algum porto, pois nem rua da praia esta cidade tem; pensa o homem que é interrompido de seus devameios por uma voz juvenil:
-Moço espere, o senhor perdeu este papel, fala a garota ofegante ao homem que caminhava apressado e pensativo na avenida umida e cinzenta de uma cidade antes nada alegre que nem rua da praia antes possuia, pois num milionésimo de segundos torna-se um porto mais alegre com uma sereia a enfeitar suas ruas.
Os olhares se cruzam, se chocam, originando-se daquele choque casual uma explosão nuclear; ele chega até a ficar tonto com a beleza estonteante da garota.
-Obrigado moça, fala o homem nada moço que ainda se refaz daquele impacto estonteante; ainda bem que você achou, é um endereço muito importante para mim.
O homem a olha novamente, agora já refeito do choque inicial, fica pensativo e questiona à seus botões: qual será a idade da menina, 17, 18 anos? Com certeza não passa de 20 anos.
Seus olhar ainda sonhador fotografa a imagem angelical daquela garota, corpo miúdo e esguio, mais parece uma gazela a levitar em verdes pradarias, cabelos lisos e compridos a dançarem ao vento, embora uma toca a lhe proteger do frio, lábios ligeiramente carnudos e vermelhos, ele os imagina uma apetitosa maçã e aquele olhar cor da noite sem luar a refletir em sua pecadora inocencia a imagem daquele homem solitário e sonhador, nela tudo exalava inocéncia. Era simplesmente um quadro de Van Gog.
Ela sorri ao homem pensativo, ele lhe retribui com um sorriso que mais parecia um pedido de socorro pelo tempo que inexoravelmente passou. Ela diz estar ofegante pois correu para alcança-lo, suas sacolas pareciam pesadas.
O homem pensou em oferecer uma carona, tentou falar, mas balbuciou apenas um “ muito obrigado” que em troca a menina lhe retribui suavemente um “de nada” numa voz que mais parecia um coral de arcanjos.
Seu meigo olhar tocou ternamente no fundo da alma do homem, ela o olha profundamente como se fosse um último olhar ao homem (e foi), e atravessa com passos de chumbo a rua perdendo-se na multidão, ele vê ao longe a silueta daquela garota de bluzão lilás…
*JORGE LUIS BORGES
Ano 2018