Vejo N(n)ormas em todo canto
Norma era uma pessoa sensacional.Vivia a sua vidinha feliz no interior de São Paulo. Tinha dois filhos e sua carreira profissional ficou em segundo plano para cuidar dos filhos, afinal seu marido (que tinha a síndrome do machismo disfarçado) era denominado provedor universal.
Norma fez letras, e adorava escrever. Enquanto seu marido (o Dr. Leôncio) passava horas, dias e meses trabalhando, Norma cuidava da casa, dos filhos, das compras, das economias. Não tinha tempo de se cuidar e sempre estava apressada por causa das aulas de ballet da menina, natação do menino, inglês dos dois, clube no fim de semana, tarefas escolares, almoço as 11.
Já Leôncio... Corria contra o tempo e era visto em casa apenas no fim da noite e no início do dia, antes mesmo do despertar das crianças e depois que já haviam dormido.
Norma estava cansada, esgotada, triste por se sentir assim, era uma espécie de culpa. Era dependente, insegura e infeliz. Não podia reclamar de nada, porque tinha tudo (como dizia Leôncio) e algumas vizinhas invasivas.
Um dia Leôncio chegou em casa e noticiou diante da te que assistia, que não mais queria comungar aquele espaço, tinha ficado pequeno demais para os dois.
Norma foi para o fundo do poço, se afogou nas mágoas, dores, remorsos até que voltou. Decidiu respeitar a vontade de Leôncio sem causar-lhe qualquer stress. O pai das crianças, por bem, sugeriu que elas ficassem sob sua guarda: trabalhava demais, não tinha tempo.
Norma concordou, jamais deixaria a cria. Na vizinhança já diziam de sua nova namorada, bem vestida, arrumada, jovem e feliz. Mas Norma não se abalava, sempre altruísta, queria o melhor para os outros.
Quando foi dividir os bens, Norma ficou assustada: deveria provar que contribuiu para a materialização dos sonhos em bens, porque não havia casado no papel, naqueles longos 14 anos de comunhão.
Norma estava com uma mão na frente e outra atrás e dois belos pacotinhos do matrimônio. Sem trabalho, sem dinheiro, sem bens, sem perspectiva. Na audiência Leôncio afirmou não conseguir liberar uma pensão tão gorda para os meninos como Norma gostaria. É que Norma era saudável e nem tinha 40, poderia trabalhar e contribuir, não daria pensão pra mulher saudável e com expectativa de vida longa. Era a norma, era a lei.
Norma chegou em casa olhou pro espelho e gritou: burra, burra, burra. Arranhou todo o rosto e na fúria desenfreada cortou os cabelos. Tomou um banho, vestiu uma roupa, deixou os filhos na casa da mãe e foi pra uma agência de empregos. Chegou lá e durante a entrevista viu o responsável afirmar que dificilmente entraria para o mercado, estava muito tempo fora dele, sem qualificação. Voltou pra casa, tomou um vinho (uma garrafa velha que tinha ganhado do pai no Natal de 10 anos atrás) e dormiu. Acordou tarde e ligou a TV enquanto tentava se recompor daquele desastre mental e surpresa: num dos eventos mais badalados do ano, baile de carnaval do clube estava lá Leôncio, aos beijos... Num trenzinho muito louco. Ela levantou e foi buscar as crianças. De madrugada, a pé e solitária. E ao chegar na mãe, depois de um dia de cão, foi taxada de irresponsável e insana e para completar ouviu o mantra: foi você quem escolheu! Devia ter pensado antes de enrabichar.
E foi assim que Norma terminou o dia. Que dia! Que Norma. Qual norma?
Norma era uma pessoa sensacional.Vivia a sua vidinha feliz no interior de São Paulo. Tinha dois filhos e sua carreira profissional ficou em segundo plano para cuidar dos filhos, afinal seu marido (que tinha a síndrome do machismo disfarçado) era denominado provedor universal.
Norma fez letras, e adorava escrever. Enquanto seu marido (o Dr. Leôncio) passava horas, dias e meses trabalhando, Norma cuidava da casa, dos filhos, das compras, das economias. Não tinha tempo de se cuidar e sempre estava apressada por causa das aulas de ballet da menina, natação do menino, inglês dos dois, clube no fim de semana, tarefas escolares, almoço as 11.
Já Leôncio... Corria contra o tempo e era visto em casa apenas no fim da noite e no início do dia, antes mesmo do despertar das crianças e depois que já haviam dormido.
Norma estava cansada, esgotada, triste por se sentir assim, era uma espécie de culpa. Era dependente, insegura e infeliz. Não podia reclamar de nada, porque tinha tudo (como dizia Leôncio) e algumas vizinhas invasivas.
Um dia Leôncio chegou em casa e noticiou diante da te que assistia, que não mais queria comungar aquele espaço, tinha ficado pequeno demais para os dois.
Norma foi para o fundo do poço, se afogou nas mágoas, dores, remorsos até que voltou. Decidiu respeitar a vontade de Leôncio sem causar-lhe qualquer stress. O pai das crianças, por bem, sugeriu que elas ficassem sob sua guarda: trabalhava demais, não tinha tempo.
Norma concordou, jamais deixaria a cria. Na vizinhança já diziam de sua nova namorada, bem vestida, arrumada, jovem e feliz. Mas Norma não se abalava, sempre altruísta, queria o melhor para os outros.
Quando foi dividir os bens, Norma ficou assustada: deveria provar que contribuiu para a materialização dos sonhos em bens, porque não havia casado no papel, naqueles longos 14 anos de comunhão.
Norma estava com uma mão na frente e outra atrás e dois belos pacotinhos do matrimônio. Sem trabalho, sem dinheiro, sem bens, sem perspectiva. Na audiência Leôncio afirmou não conseguir liberar uma pensão tão gorda para os meninos como Norma gostaria. É que Norma era saudável e nem tinha 40, poderia trabalhar e contribuir, não daria pensão pra mulher saudável e com expectativa de vida longa. Era a norma, era a lei.
Norma chegou em casa olhou pro espelho e gritou: burra, burra, burra. Arranhou todo o rosto e na fúria desenfreada cortou os cabelos. Tomou um banho, vestiu uma roupa, deixou os filhos na casa da mãe e foi pra uma agência de empregos. Chegou lá e durante a entrevista viu o responsável afirmar que dificilmente entraria para o mercado, estava muito tempo fora dele, sem qualificação. Voltou pra casa, tomou um vinho (uma garrafa velha que tinha ganhado do pai no Natal de 10 anos atrás) e dormiu. Acordou tarde e ligou a TV enquanto tentava se recompor daquele desastre mental e surpresa: num dos eventos mais badalados do ano, baile de carnaval do clube estava lá Leôncio, aos beijos... Num trenzinho muito louco. Ela levantou e foi buscar as crianças. De madrugada, a pé e solitária. E ao chegar na mãe, depois de um dia de cão, foi taxada de irresponsável e insana e para completar ouviu o mantra: foi você quem escolheu! Devia ter pensado antes de enrabichar.
E foi assim que Norma terminou o dia. Que dia! Que Norma. Qual norma?