A CARTOMANTE
Adriana foi a uma cartomante muito conceituada, indicada por uma amiga, ali mesmo, em Copacabana, a Madame Zahara.
Na sala meio escura, uma senhora de cabelos negros e um lenço vermelho que os cobria parcialmente, disse-lhe para sentar-se. Trajava uma bata branca e tinha no pescoço quase uma dezena de colares de contas coloridas. Sobre a mesa, coberta por uma toalha de veludo também vermelha, um copo d’água, um ramo de arruda, um maço de cartas de tarô e uma bola de cristal, além de búzios, destes da praia mesmo. Olhou-a penetrantemente nos olhos e disse-lhe para cortar o baralho.
Adriana estava ansiosa...
_ Então? O que a senhora está vendo nas cartas?
_ Boas novas! Você vai mudar para um emprego muito melhor...
_ Tá bom... tá bom! Isto é mesmo uma boa notícia, mas, pra ser sincera, eu gostaria de saber...
_Se há alguma doença na família? Se vai viajar... ganhar muito dinheiro? Parte o baralho de novo!
_ Na verdade, o que me trouxe aqui foi minha solidão... Quero saber se há alguém no meu caminho, na sua previsão.
_ Ah! Isso? Engraçado... as mulheres não têm perguntado muito a este respeito... Homem, você quer saber sobre homem, não é? Ou será sobre mulher?
_ Não, não! Quero um Homem com H maiúsculo!
_ Espera, deixa eu ver... nada aqui. Vamos para a bola de cristal... é mais precisa e mostra mais. Você está em busca de um cara rico, alinhado, boa pinta?
_ Pode ser, disse Adriana sorrindo, mais relaxada...” viu ele? “
_ Não.... nada! Espera! Estou vendo um coco...
_ Um coco? Como assim?
_ É... um coco... nas mãos de um homem moreno e grisalho, com sobrancelhas de taturana... bem grossas, quero dizer.
_ Só isso? Ele é bonito? Alto? Disse alguma coisa?
_ Não... não dá pra ver se é bonito ou alto... a imagem está meio enevoada...Tá sentado. Ele tá lá tomando o coco de canudinho... Isso indica que a tua solidão ainda vai demorar aí contigo... tá bebendo bem devagarinho...
_ Você sabe o que ele faz, como ele é... se tem família... se é casado?
_ Não... o coco está bem na frente e há uma bruma mística em torno dele... não consigo captar mais. Só sei que ele está na praia... tem cara de solitário também... Agora, o que ele faz? Como vou saber? Pode até ser vendedor de coco.
_ Mas você não é vidente? Pô , eu estou pagando! Quero saber mais sobre ele. Como você sabe que este cara é pra mim?
_ Aí é que entram os meus poderes paranormais: eu escutei ele pensar: “Diz pra ela me esperar.”
_ Esperar? Tá de brincadeira! E o que eu faço enquanto isso?
_ Calma! Ele está pensando... pensou: “Diz pra ela ir sendo feliz, enquanto eu não chego...”
Neste ponto, a cartomante deu por encerrada a sessão e perguntou se ela queria agendar uma nova consulta. Adriana disse que ia pensar. Pagou e saiu dalí meio confusa. Instintivamente, dirigiu-se a um quiosque no calçadão da praia. Pediu um coco e ficou pensando na frase que a cartomante disse que ele transmitira por pensamento: “Diz pra ela ir sendo feliz enquanto me espera...”Sentou-se numa das cadeiras de plástico do quiosque e ficou olhando o mar, perdida no horizonte, vendo o sol se pôr, à medida que a tarde caía... na rádio do quiosque tocava Ed Sheeran, cantando Photograph.