Chico do Céu
Chico do Céu era um tipo quase em extinção. Fazia de tudo um pouco. Era motorista, açougueiro, lavador de carros, pedreiro, carpinteiro, marceneiro e bombeiro. De vez em quando quebrava galhos na elétrica, só não fazia "gatos", porque isso a consciência não deixava, roubar não era sua praia. Certa vez, Chico foi consertar um vazamento que havia no prédio onde morava, era tido como pessoa de confiança por trabalhar há muitos anos naquela região. Diferente do que sempre acontecia, chico chegou estranho, cabisbaixo, nervoso e ansioso, dizendo que havia se esquecido de trazer o balde e a bucha para fazer o rejunte dos azulejos. Meio sem jeito perguntou primeiro se tinha um copo descartável para substituir o balde, ou um pote de sorvete, ou uma vasilha velha, qualquer coisa. Depois, ainda mais sem jeito pediu de novo a bucha e o dei a que usava na cozinha. Mas não podia permiti que saísse como entrou e então perguntei porque estava assim tão agitado. Ele, sem me olhar nos olhos, disse que estava cheio de problemas, e que o povo não entendia, que a mulher dele estava feito o "pemba" e que já não sabia mais sabia o que fazer. Ela é uma pessoa boa demais, deixou os filhos para cuidar dos filhos dos outros e agora que está doente, a patroa nem nunca a visitou com as crianças e ela quase morre de depressão por isso. O Pedrinho e o Thiago eram igual filho. Parece até que a doença dela é que "pega". Mais não, ela tem essa doença ruim que nem pode falar o nome, já é metástase e meu filho de pouco mais de uma década passa o tempo todo chorando, deprimida, não vai a aula, por medo da mãe morrer. Eu já a levei no neuropediatra, que cobra 320 reais por uma consulta, e toda vez que volta é este preço, oh povo mercenário e mesmo sem condições fico escravo disso. Minha vida não está fácil. Além do mais, minha esposa fala que a doença dela começou em mim, que não dava conta das coisas de casa e ela precisou sair para ajudar. Eu não estou vivendo não, minha filha. Tenho outros filhos, tudo cheio de medo, não querem sair de casa, pra não encontrar a mãe morta. Essa doença ataca o paciente e toda família. A Dalva acredita na cura, reza pra Nossa Senhora, vai na Casa dela, mas hoje agora a pouco, ligou aqui pra mim, tava na rua e disse que foi buscar o exame e que tinha um coágulo no cérebro. Ela falou isso no telefone e eu tô aqui agora sem saber como vou voltar pra casa. Eu sou muito fraco pra essas coisas. Eu aprendi a lidar com a morte muito cedo, perdi mãe e pai antes de completar a idade da minha caçula, meus avós nem vi. Acho que por isso sou assim, agressivo, nesta mulher mesmo, quase encostei a mão. Deu polícia e tudo, agora estou arrependido, mas ela, mesmo doente, ficava dizendo que o culpado de tudo sou eu. Eu ando meio desanimado, triste, sem fé, porque não tenho mais esperança de nada, mas não posso parar não é? Depois de ouvir atentamente cada palavra, esbocei um sorriso acolhedor e disse que a vida era mesmo uma eterna surpresa. Que a doença não era um desejo, mas era uma forma de aprendermos a lidar com as nossas limitações e buscar uma ajuda espiritual. Que o desânimo não ajudaria a sua esposa superar os desafios e que a sensibilidade dela poderia fazer com que estivesse triste, angustiada e por isso o acusava, mesmo sabendo que não se tratava de algo que dependia dele. Disse, ainda que devemos aprender a aceitar aquilo que não podemos mudar e não aceitar que nos impute algo que não é nosso... E que jamais perdesse a candura, o amor e a esperança. Ele chorou, dei-lhe um copo com água e perguntei se podia ajudar em alguma coisa. E, para minha surpresa, sorriu e disse que era pra procurar a Dalva nas redes sociais e desse uma palavra de ânimo pra ela, e curtisse as suas fotos, falasse que o cabelo crescendo era bonito porque antes era igualzinho ao meu com volume, porque isso a faria feliz... Eu disse que isso era fácil, mas jamais falei que difícil foi segurar as lágrimas enquanto ele descrevia a sua história. Quando ele saiu, chorei. Era muito... E ele nem entendia o quanto era forte. Não era à toa que era o Chico do Céu...
Qualquer semelhança é mera coincidência. Preservadas as denominações, o enredo é verídico e por isso eu fico emocionada.
Tomei a decisão de compartilhar para que muitos, possam aprender a suspirar gratidão...
Chico do Céu era um tipo quase em extinção. Fazia de tudo um pouco. Era motorista, açougueiro, lavador de carros, pedreiro, carpinteiro, marceneiro e bombeiro. De vez em quando quebrava galhos na elétrica, só não fazia "gatos", porque isso a consciência não deixava, roubar não era sua praia. Certa vez, Chico foi consertar um vazamento que havia no prédio onde morava, era tido como pessoa de confiança por trabalhar há muitos anos naquela região. Diferente do que sempre acontecia, chico chegou estranho, cabisbaixo, nervoso e ansioso, dizendo que havia se esquecido de trazer o balde e a bucha para fazer o rejunte dos azulejos. Meio sem jeito perguntou primeiro se tinha um copo descartável para substituir o balde, ou um pote de sorvete, ou uma vasilha velha, qualquer coisa. Depois, ainda mais sem jeito pediu de novo a bucha e o dei a que usava na cozinha. Mas não podia permiti que saísse como entrou e então perguntei porque estava assim tão agitado. Ele, sem me olhar nos olhos, disse que estava cheio de problemas, e que o povo não entendia, que a mulher dele estava feito o "pemba" e que já não sabia mais sabia o que fazer. Ela é uma pessoa boa demais, deixou os filhos para cuidar dos filhos dos outros e agora que está doente, a patroa nem nunca a visitou com as crianças e ela quase morre de depressão por isso. O Pedrinho e o Thiago eram igual filho. Parece até que a doença dela é que "pega". Mais não, ela tem essa doença ruim que nem pode falar o nome, já é metástase e meu filho de pouco mais de uma década passa o tempo todo chorando, deprimida, não vai a aula, por medo da mãe morrer. Eu já a levei no neuropediatra, que cobra 320 reais por uma consulta, e toda vez que volta é este preço, oh povo mercenário e mesmo sem condições fico escravo disso. Minha vida não está fácil. Além do mais, minha esposa fala que a doença dela começou em mim, que não dava conta das coisas de casa e ela precisou sair para ajudar. Eu não estou vivendo não, minha filha. Tenho outros filhos, tudo cheio de medo, não querem sair de casa, pra não encontrar a mãe morta. Essa doença ataca o paciente e toda família. A Dalva acredita na cura, reza pra Nossa Senhora, vai na Casa dela, mas hoje agora a pouco, ligou aqui pra mim, tava na rua e disse que foi buscar o exame e que tinha um coágulo no cérebro. Ela falou isso no telefone e eu tô aqui agora sem saber como vou voltar pra casa. Eu sou muito fraco pra essas coisas. Eu aprendi a lidar com a morte muito cedo, perdi mãe e pai antes de completar a idade da minha caçula, meus avós nem vi. Acho que por isso sou assim, agressivo, nesta mulher mesmo, quase encostei a mão. Deu polícia e tudo, agora estou arrependido, mas ela, mesmo doente, ficava dizendo que o culpado de tudo sou eu. Eu ando meio desanimado, triste, sem fé, porque não tenho mais esperança de nada, mas não posso parar não é? Depois de ouvir atentamente cada palavra, esbocei um sorriso acolhedor e disse que a vida era mesmo uma eterna surpresa. Que a doença não era um desejo, mas era uma forma de aprendermos a lidar com as nossas limitações e buscar uma ajuda espiritual. Que o desânimo não ajudaria a sua esposa superar os desafios e que a sensibilidade dela poderia fazer com que estivesse triste, angustiada e por isso o acusava, mesmo sabendo que não se tratava de algo que dependia dele. Disse, ainda que devemos aprender a aceitar aquilo que não podemos mudar e não aceitar que nos impute algo que não é nosso... E que jamais perdesse a candura, o amor e a esperança. Ele chorou, dei-lhe um copo com água e perguntei se podia ajudar em alguma coisa. E, para minha surpresa, sorriu e disse que era pra procurar a Dalva nas redes sociais e desse uma palavra de ânimo pra ela, e curtisse as suas fotos, falasse que o cabelo crescendo era bonito porque antes era igualzinho ao meu com volume, porque isso a faria feliz... Eu disse que isso era fácil, mas jamais falei que difícil foi segurar as lágrimas enquanto ele descrevia a sua história. Quando ele saiu, chorei. Era muito... E ele nem entendia o quanto era forte. Não era à toa que era o Chico do Céu...
Qualquer semelhança é mera coincidência. Preservadas as denominações, o enredo é verídico e por isso eu fico emocionada.
Tomei a decisão de compartilhar para que muitos, possam aprender a suspirar gratidão...