Tédio
Josué acordou ás sete horas e levantou-se rapidamente, pois não tinha mais disposição para ficar na cama. Preparou o café da manhã, pão integral com manteiga e leite com café. Em seguida tomou os comprimidos que já vinha tomando a vinte e três dias.
Começou a caminhar pelo apartamento pensando no que ia fazer naquela manhã ensolarada de verão. Pegou um romance e foi ler, mas notou que já não via a hora de terminar aquele livro, já estava farto daqueles personagens e daquela trama. A cada página que lia contava quanto faltava para terminar o capítulo, até que parou de ler. Colocou o marcador de páginas no livro e guardou-o na estante.
Pôs-se a caminhar novamente pelo apartamento, ansioso. Ia até a cozinha, depois passava pelo corredor indo até a sala, olhava pela janela, voltava e entrava no quarto, dava meia volta, passava pelo corredor novamente e entrava no banheiro, olhava no espelho. Notou que estava com olheiras.
Resolveu ouvir música. Colocou no aparelho de som um disco de rock irlandês, sentou-se no sofá, mas não estava com muita paciência para música. Ficava contando quantas faixas faltavam para o álbum acabar até que este terminou. Colocou o vinil na capa e guardou-o.
Pôs-se a caminhar pelo apartamento novamente, cozinha, corredor, sala, corredor, quarto, corredor, banheiro, cozinha, área. Aquele apartamento parecia uma prisão, uma solitária sem ninguém para ao menos conversar. Pensou em sair para fazer uma caminhada na rua, mas já eram dez horas, o sol estava forte demais, era melhor ficar em casa.
Foi até a cozinha e preparou um lanche, não que estava com tanta fome, mas aquilo o ajudaria a passar o tempo. Então preparou um misto quente, sentou-se á mesa e comeu.
Foi até a sala e ligou a televisão, não tinha nada de interessante passando, mas sentou-se no sofá e ficou ali assistindo um programa de culinária. Não estava gostando muito daquela programação e pôs-se a mudar os canais, que não mostravam nada do seu interesse.
Desligou a TV e pegou o celular, foi jogar um jogo para passar o tempo, mas notou que sua concentração estava péssima, não conseguia passar de fase naquele game de corrida de carros.
Que semana estava passando. Todos os dias assim, naquele tédio. Uma sensação horrível, vontade de fazer tudo, mas concentração para fazer nada. Contava os dias para retornar ao seu psiquiatra e ver o que ele diria. Esperava um fim para aquilo.
Após uma longa manhã, finalmente chegou a hora de preparar o almoço. Foi para a cozinha e pôs-se a cozinhar. Até que enfim algo para entreter-lhe. Fatiar legumes, esquentar arroz, afogar feijão, temperar e fritar a carne.
Almoçou e começou a pensar, havia vencido a manhã, mas tinha ainda toda tarde e um pedaço da noite para enfrentar. O que faria para se distrair? Voltaria a caminhar pela casa, ler, ouvir música, comer e assistir TV.