O Causídico
Vou tentar resumir, viu? Foi nas pernas do vento que cheguei à cidade grande atrás de emprego, dignidade - afinal eram a mulher e dois meninos pra encher bucho e educar e torná-los gente, Enredo antigo, tema repetido, o mesmo do mesmo, mas foi assim, doutor. Era um besta, acreditava nas pessoas, me disseram que era fácil me estabelecer, emprego a fartar, um paraíso. Vendi um cotoco de terra, peguei um ônibus e vim pro Eldorado litorâneo, como me diziam. Começo até que enganou, viu? Com a mirradice do dinheiro que trouxe, comprei um barraco e arrumei emprego de cobrador , coisa pouca. Meninos crescendo, tinha de educá-los, queria eles que nem eu, não. Só que nunca fui homem de estudos, nunca tive a esperteza dos ratos que mordiscam os homens, nunca o veneno da desconfiança me feriu e na minha bestice nunca reparei no que acontece ao meu redor. Fui criado no mato, sou um caboclo sério, - sem estudo, mas correto - e não admito presepadas contra mim, não. Na minha terra honra se paga com honra. O senhor já sabe da história, a justiça me botou o senhor como meu advogado e digo ao senhor: não me arrependo! Se coloque no meu lugar: acordar cedo, trabalhar feito um condenado e chegar em casa e encontrar a mulher da gente debaixo de um cabra que nunca vi, a se retorcer toda, a gritar feito uma amalucada, dizendo que ama o safado e que ia me deixar... O resto o senhor já sabe. Tenho alguma chance?