ENZO E GIULIA

Da qualche parte a Milano...

” Não vá se apaixonar por mim, disse Enzo a Giulia, sorrindo, depois de terem feito sexo.

“Como assim? Agora é tarde!” respondeu Giulia... “Estou louca por você”, acrescentou, com a voz embargada... lágrimas escorriam-lhe dos belos olhos. Disse o que já trazia engasgado na garganta há tempos. Estavam saindo há seis meses já, mas o amara à primeira vista.

” Sou casado, tesouro... sabias disso”, retrucou Enzo. “Não troco o certo pelo duvidoso. Já estive apaixonado... é uma merda! Depois de casado, aconteceu-me... minha mulher percebeu e me atirou na rua. A outra, por quem eu estava enlouquecido, sumiu. Sofri muito... depois de um tempo, minha mulher me aceitou de volta, mas avisou-me que aquilo não estava esquecido. Desde então, tomo o maior cuidado. Não me apaixono... tomei jeito!” “Fica assim não, vai! Vem cá!”, sussurrou Enzo no ouvido de Giulia, puxando-a para si.

” E o que eu faço agora?” perguntou Giulia, enxugando as lágrimas no lençol e recostando-se no peito nu de Enzo. “Não queria me apaixonar por você... aconteceu.”

Enzo abraçou-a, beijou-lhe o rosto úmido e disse:

” Gosto muito de você... Adoro transar com você... a gente se dá tão bem... faz um amor tão gostoso... deixa assim como está! Nada de sentimentalismos, de amor... o que sentes é mera paixão, sentimento fugaz... vai passar.” E acrescentou: “Mas se você vai ficar assim, se vai sofrer, então...

”Não! “disse Giulia quase gritando. “Não consigo viver sem você! Deixa! Eu te amo e sei que você não me ama, nem vai me amar. Vou amar por nós dois.

O tempo passou... quase um ano... Giulia pensou naquela cena no quarto de motel por muito tempo... muitas vezes. Chorava quando ia dormir, molhando o travesseiro... chorava ao tomar banho, suas lágrimas misturadas à água do chuveiro, indo pelo ralo, enquanto ouvia Marisa Monte... “Eu só quero que você saiba, que estou pensando em você, agora e sempre mais”.

Quando se encontrava com Enzo, no entanto, nenhum choro, nenhuma reclamação. A paixão enrustida a fazia mais fogosa, mais envolvente, mais sedutora, mais sexy, mais fêmea. Estava mais bonita, até. Enzo se deliciava... mas não só Enzo.

Na academia de ginástica, Giulia começou a retribuir os olhares de Gianluca, um cara bonitão, alto, forte, louro de olhos verdes, abdômen definido e braços musculosos, diferente de Enzo que não era tão malhado e era moreno. Um dia, ele se aproximou dela e começou a puxar conversa... Ela o observou atentamente, e adorou sua gentileza, sua atenção e, sobretudo, o fato de mostrar-se, claramente, apaixonado por ela. Após algumas conversas, ele segurou sua mão... rolou um abraço mais apertado, beijos mais demorados no rosto, carinhos nos cabelos dela... ele acabou por convidá-la para ir ao cinema e jantar depois... e ela aceitou. Ah! O amor, a paixão... Não há nada mais apaixonante, mais excitante do que ter um homem lindo apaixonado por você.

Enzo estava estranhando as desculpas que Giulia andava lhe dando, adiando as transas com frequência, evitando beijos mais longos, não respondendo a todas as suas chamadas. Aquele fogo todo de antes parecia que estava se apagando aos poucos. Um dia, sem avisar, apareceu na saída do trabalho, com uma caixa de chocolates finos.

“O que houve Giulia? Te liguei e você não retornou minha chamada. Te fiz alguma coisa? Você está diferente... Está zangada comigo?” disse, ao vê-la saindo. “Vamos pro motel fazer um amorzinho gostoso, tesouro! Me dá um beijo?” acrescentou, em tom suplicante, enquanto se aproximava para abraçá-la e beijá-la.

Giulia esquivou-se, colocando a mão no peito de Enzo, não o deixando aproximar-se dela.

Enzo, surpreso com a reação de Giulia, perguntou, em tom mais exaltado: “O que está acontecendo? Você não me ama mais?” ao que Giulia respondeu: “Acho que não mais... era mera paixão efêmera... passou.” Devolveu-lhe a caixa de bombons e, rapidamente, chamou o táxi que se aproximava, e sumiu no trânsito. Tinha um encontro com Gianluca naquela noite.

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