Um baile no oeste do Paraná
Um baile no oeste do Paraná
Nesta região, este tipo de diversão é comum aos sábados à noite. Amigos se reúnem e passam algum tempo juntos, se divertindo. Um bom programa para solteiros, casados também, desde que, com suas esposas. Bailes no interior do Paraná são sempre uma boa pedida. Por conta deste prazer coletivo, esses lugares são sinônimos de casa cheia, gente bonita, boa música, segurança e principalmente, diversão garantida.
E um grupo de amigos, decidiu ir ao “baile do Havaí”. O local era tudo de bom. Um clube social com piscinas, quadra de tênis, campos de futebol, área de festas, cobertas por árvores, enfim, próprio para uma noitada daquelas. E as meninas ajudavam a deixar o lugar mais “atrativo”, com suas roupas havaianas. Vestiam cada sainhas, tomará que caiam, o pessoal amava.
Como o baile começa umas onze da noite, não dava para ficar em casa no ócio, este tempo todo. Então resolveram fazer um churrasco antes e depois sairiam festar. Como sempre, fizeram uma divisão das despesas, com carne e muita cerveja. E fizeram na casa do Antonio, as oito.
O pai de Antonio, “seo Aroldo”, gente boa que só ele, sempre participava, assava a carne, era parceiro de truco, fazia umas caipiras sem igual. Quando o pessoal começou a chegar, os aperitivos não demoraram. Seo Aroldo, macaco velho de guerra já foi avisando; - galera, comam sem vergonha, estômago cheio dificulta o cara ficar bêbado. Na verdade, nas suas entrelinhas, um conselho.
Como ele foi “curtido” nesta arte, tomar todas, sempre dizia; - de “tanque cheio”, a bebida demora mais a fazer efeito. E como jovens bebem muito, lá vai carne pessoal, era linguicinha, picanha, alcatra mal passada, tudo uma delícia, sem esquecer claro, a boa costela de guerra. Seo Aroldo foi assim, comia bem e bebia com vontade. Muitos o conheciam como cem litros. Porque olha, “cabia” alguma cerveja naquela barriga.
Até as dez e pouco, o tempo passou rápido, ora jogando baralho, outra bebericando uma gelada, comendo uns petiscos, e a galera cada vez mais animada.
Estavam em umas dez pessoas, fora os pais de Antonio. Quase todos solteiros, havia um casal de namorados. Porém, todos parceiros. Iriam em três carros, a picape dos namorados, e dois carros, uma Panorama e outro um Chevette.
Na hora combinada decidiram sair, não era longe, porém, até dar umas voltas, passar nos bares, sentir o clima, seria necessário algum tempinho. Em carreata foram fazer o circuito.
Na panorama estava Antonio e seu irmão Rubens e dois amigos, Carlos e Valdir. No outro, duas irmãs, Maria e Luzia, também os amigos Cleto e Neto, Marcos e Claudia estavam de picape.
A panorama era dirigida por Antonio, era um carro velho, usado principalmente para a lida. A família trabalhava com decoração de festas infantis. Os bancos quando dobrados, ofereciam amplo espaço; - dava para levar muita “tralha”, dizia seu Aroldo. Porém, só abria uma porta, a do motorista, a outra estava emperrada. E o vidro a mesma coisa, só abria para o motorista, contudo isto nunca foi problema. - Carros são feitos para nos levar a algum lugar, de preferência com as portas fechadas, dizia Antonio.
Entretanto, os minutos que seguiram, mostraram outra realidade. Um carro quatro portas seria muito útil, pensou Rubens. Antonio não era muito alto, contudo, parecia um jovem grande. Na verdade, sua barriga contribuía muito para seu falso tamanho. O “pancepis” era avantajado e mal distribuído nos cento e trinta quilos. E aquela noite, Antonio, como sempre, exagerou na comida e isto começou a formar gases. Riu consigo mesmo, sem chamar a atenção. Sabia, logo os amigos estariam loucos com ele. E a visão dele soltando pum e os “parça” trancados no carro, o fez rir mais alto. Como poderiam sair? Apenas se ele parasse o carro. E Antonio não faria isto.
Seu irmão Rubens, ao perceber Antonio rindo, anteviu; - olha aqui seu fdp, se você começar a soltar pum, mata nós, não faça isto. Então, Antonio que estava segurando o riso, não aguentou e riu com vontade. Depois de uma refeição, a contraindicação era não deixar Antonio rir. Caso isto ocorresse, ele libera gases. Mas foi dito e feito, ou dito e surtiu efeito, não faz diferença, a ordem do produto não altera o fator. E Antonio soltava um pum atrás do outro e quanto mais ria, mais pum. Vendo os amigos desesperados, ele fechou os vidros do carro e a carniça fixou mais forte. Para ajudar a piorar, ele soltava o pum e pulava no banco, isto deixava os puns mais insuportáveis.
Entretanto, a cena não era exclusividade dos ocupantes do carro. Os amigos que vinham atrás, ao ver o pessoal gesticulando daquele jeito, já imaginavam o que estava acontecendo. E riam muito, todos já tiveram o desprazer de estar naquele lugar.
Passados alguns intermináveis minutos, pararam em um posto para repor as cervejas. Antonio estacionou o carro, no meio da galera que fazia a mesma coisa, precisavam de uma “abastecida estratégica”, de cerveja.
Seu irmão Rubens e os amigos, saíram quase no mesmo tempo do carro. Quem estava de longe imaginava uma coisa, já os de perto, sentiam o cheiro do que acontecia. E quem conhecia Antonio, ria de chorar. Ele fazia isto só de sacanagem e dizia; - soltar pum sozinho, não tem graça. É preciso repartir tudo com os amigos. E não era uma boa ideia rir da piadinha, se fizesse, ele já começava com seus gases.
Depois de alguns minutos, os amigos recuperaram a cor, um até respirava sem muito esforço. Quem estava em outros carros, ou grupos de amigos, apenas riam da desgraça alheia. E isto voltou a fazer efeito. Logo, Antonio era o centro das atenções, onde ele estava, ninguém ficava perto. Chateado, calou e voltou ao normal.
Após todos encherem seus copos, Antonio encostou o carro ao lado de bomba e mandou abastecer. Um amigo sarrista não perdeu a oportunidade e gritou lá do fundo; - nem abastece nada, coloca um lençol em cima e use como balão, o carro tá cheio de gases. Uma galera riu com vontade.
Como o posto era o último lugar, para dar uma voltinha, tomaram rumo ao baile. E Antonio, doido das ideias, parou o carro em uma rotatória e depois subiu com ele um barranco. Haviam planejado isto, um deitou em cima do capô, outros dois deitaram na pista e foram cobertos por jornal. As meninas Maria e Luiza jogaram uns galhos de árvore na rua. Carlos e Valdir faziam cena de que choravam. Com poucos minutos o local “tava” cheio de curiosos.
Feito a cena, chamar a atenção, tinha até fila de carros, um Zé saiu correndo chamar os bombeiros, uma pessoa disse que viu o acidente, alguém jura ter viso um corpo voar no mato. Então Antonio levanta, gritando; - “vamo pro baile” que hoje ninguém morreu. Uma menina desavisada desmaiou de medo. Outra gritou, mas foi só para participar da cena. E Antonio ria de chorar, logo... Bom, como estavam a poucos metros do local, consentiram. Você Antonio, vai caminhando, ninguém vai aguentar você “rindo” desse jeito. Ele deu de ombros e disse, - é só atravessar a rua.
Passado poucos minutos se reuniram perto do bar; - é aqui o meu lugar, falou Vitor e continuou; - bar aqui, banheiros ao lado, é obrigatório à passagem das gatinhas, então, não saio daqui nunca. E começaram a tomar e papear. Antonio disse; - sabe Vitor, tenho que render homenagens a você, até que enfim disse uma coisa inteligente, gostei do lugar, “quanta beleza aqui”.
Então, Maria disse; - vou pegar uma (cerveja), quem quer? Ela contou quatro. E Antonio disse; - calma, vou contigo fazer a segurança e pegar algo para beber. Ela riu e falou; - nem vem, você só vai espantar os gatinhos, fala o que você vai beber que eu pego. E Antonio disse; - hoje quero uísque. Seu irmão na hora; - doido, vai devagar, a última vez que misturou cerveja e uísque, ficou de cama três dias, e completou; - não misture. Antonio riu e comentou; - se liga mané, só vou beber o que tiver álcool, nada de misturar, e gritou para Maria; - pega de dezoito anos para cima, esse negocio de doze não é minha praia, não sou pedófilo. E o pessoal riu.
E o tempo foi passando, Antonio bebendo com vontade, vez por outra soltava suas “risadas”.
E o baile em seu ritmo, tudo normal, até que uma hora Antonio foi pegar outra e disse; - olha a tática. Ficou no fim da fila e soltou um daqueles. Só sobrou metade dos guerreiros. Então ele começou a rir, ai ficou sozinho. O cara que vendia as fichas disse, na próxima chega aqui, vendo para você, nem esquenta. Teve essa brilhante ideia, porque como ele não poderia sair da cabine, quanto mais Antonio ficasse na fila, mais ele “pagava os pecados com suas risadas”.
Antonio voltou aos amigos e ficou olhando uma menina bonita que estava passando. Nisso seu irmão disse; - sai para lá, com esses “bafos” seu, nem olhe que espanta as meninas. Antonio nem deu bola, estava era a fim de beber.
Rubens chamou Neto; - vamos dar umas voltas, e ver se para o outro lado encontramos umas gatinhas. Saíram e foram tentar a sorte. Cleto e Valdir e as irmãs, Maria e Luiza curtiam um papo gostoso. Marcos e Claudia por sua vez, esperavam o momento certo. para dar uma escapadinha.
Aproveitando que Rubens saiu com a desculpa de cumprimentar uns amigos saíram. E foram a um local pré-determinado. Atrás de uma das piscinas, havia um lago e ao lado deste, havia muitas árvores. Como namoravam há pouco tempo, queriam realizar umas “fantasias” de namorados. Uma delas. transar em um local aberto e o baile, era a oportunidade perfeita.
E foram disfarçadamente chegando ao local. Andavam um pouco, namoravam, mais alguns passos, outros beijos e neste ritmo, chegaram ao local que achavam seguros. Pronto e logo começaram os amassos mais quentes.
Que delícia essa coisa, um lugar lindo, dava para ouvir a música, as pessoas falando, ver a multidão se divertindo. Não era apenas o local aberto, o medo excitava, a primeira vez que eles faziam algo tão explicito, que gostosura. Com certeza, seria algo para aproximá-los mais. Mas no momento ambos pensavam em outras coisas.
No outro lado, no bar Antonio pediu uma água com gás, não estava se sentindo bem e pensou; - devo ter exagerado. Pegou a água e foi para baixo das árvores, talvez precisasse chamar o Hugo, então, não faria no meio da galera.
Mal chegou ao local e o Hugo veio conversar com ele. Foi coisa feia. Passado o papo inicial, Antonio sabia, deveria ir dormir. Só isso o deixaria bem, porém, não conseguiria voltar onde estava o pessoal. Olhou para os lados e percebeu, estava próximo ao estacionamento. Bateu à mão no bolso, cadê a chave do carro, então lembrou, ficou com seu irmão. No entanto, sabia que a picape de Marcos, deveria estar próxima e a tampa traseira não fechava, pensou, abro e deito atrás, quando eles chegarem, vou junto.
Caminhou um pouco, olhou para todo lado e nada, deveria ser fácil encontra los, um era preto, outro carro branco, se estivesse perto, chamaria a atenção. Andou mais um pouco, tropicou varias vezes, falou com o Hugo em mais algumas oportunidades, até que encontrou, realmente estavam juntos os carros.
Chegou à picape, abriu a porta traseira e deitou. Antes de se acomodar direito já dormia.
Passado alguns minutos, dois rapazes que passavam pelo local, ao avistarem Antonio daquele jeito, resolveram sacanear. Empurraram Antonio para dentro da carroceria, fecharam a porta e saíram dando risada. Em coma, ele não percebeu nada.
No outro lado do estacionamento, sob as árvores, Marcos e Claudia estavam se recompondo. Haviam feito algo maravilhoso, ficaria marcado na memória de ambos, durasse o tempo que fosse o relacionamento. Aquela transa, naquele lugar, foi mágico. Depois de colocarem suas roupas e arrumar os cabelos, ficaram naqueles amassos de namorados.
Cláudia olhou em direção aos fundos do lago, percebeu algo estranho e disse; - Marcos olha mais para baixo, perto daquela árvore grande, pintada de branco. Então Marcos olhou e viu, havia outro casal com a mesma fantasia. Porém pelo que percebeu, eles estavam há pouco tempo no local, ainda estavam com roupas. Então rui e disse; - será que mais pessoas já estiveram por aqui? E Claudia matou a charada, apontou para cima e viu um casal que estava saindo naquele momento. Riram, e falaram ao mesmo tempo; - será que nos viram? Não sabem ao certo, porém, exibicionistas começaram a ficar excitados de novo.
Neste mesmo momento, porém no outro lado, no bar, todos se encontraram, Rubens e Cleto voltaram decepcionados, não conseguiram bons resultados. Os demais, Carlos, Valdir e as irmãs, já davam sinais de cansaço e resolveram ir para casa. Antonio? Seguia em coma. Suas condições físicas, se agravaram devido às acomodações de sua UTI. Era apertada, mal arejada e em condições sub-humanas, parecia mais um chiqueiro, fedia muito.
Neste momento, Marcos e Cláudia chegam ao bar, não encontram os amigos e resolvem aguardar uns minutos. E começam a conversam sobre as peripécias que fizeram no local, riram muito ao lembrar-se dos outros casais.
Porém, já passava das cinco da manhã e resolveram ir para casa. Chegaram ao carro, tudo certo. Marcos dirigiu até a casa de Cláudia, se despediram e foram embora.
Quando chegou a casa, parou o carro na garagem e foi dormir. Não percebeu a motosserra ligado na parte traseira da picape. Deitou e apagou, sua noite foi sensacional.
Contudo, parece que deitou e já acordou, não deu tempo sequer de fechar os olhos, o telefone tocou. Olhou e viu que era Cláudia; - alô meu amor, que foi, esqueceu algo no carro, mal saímos do baile você está me ligando. E Cláudia riu e falou; - olhe direito seu relógio, são dez da manhã. Verdade, disse marcos e continuou; - tudo bem contigo, que faremos hoje? E Cláudia disse; - precisamos ir à casa de seu Aroldo, estão preocupados, Antonio não apareceu ainda.
Passado uns dez minutos, chegaram à casa de Antonio, os outros amigos da noite anterior estavam todos por lá.
E seo Aroldo dizia; - mas como sumir, não consigo entender, se estavam todos juntos, como aconteceu? Buscando a resposta, cada um fez um mapa mental da noite anterior e chegaram a um momento, quando Rubens e Cleto saíram dar uma volta, Antonio ainda estava com eles. Depois disso, Marcos disse; - saímos dar umas voltas e não o vi mais. Houve um silêncio, Cláudia comentou algo sobre a noite anterior. Marcos também lembrou, deu uma risadinha, mas não chamou a atenção de ninguém.
Passado mais de uma hora, já haviam ligado para outros amigos e nada. Então resolveram sair e procurar Antonio no clube, vai que caiu numa valeta. A picape de Marcos ficou estacionada na frente da casa e ao meio dia estava torrando.
Nisso seo Aroldo que passava perto disse; - Marcos, jogaram um gambá dentro do seu carro ontem, tá fedendo muito. E foram abrir a capota da picape.
O gambá não estava morto, mas Antonio fedia mais que urubu em rodízio de carniça. Era tanto pum concentrado, que não foi fácil arrasta ele de onde estava.
Passado o susto, horas depois, ao fim da tarde, Antonio recuperado disse; - é, vocês perceberam o que salvou minha vida? Ninguém entendeu o que ele quis dizer.
Percebendo isto, disse; - foi minha fragrância personalizada, catinga de gambá assado ao sol, não tem erro, todos reconhecem de longe.
Paulo Cesar