O VENDEDOR DE MUDAS DE FRUTAS - crônica de Ialmar Pio Schneider - Por muitos anos a fio era seu afã, num certo período, tirar pedidos para compradores de mudas de árvores frutíferas que os pequenos agricultores plantavam em suas propriedades,
O VENDEDOR DE MUDAS DE FRUTAS
IALMAR PIO SCHNEIDER
Por muitos anos a fio era seu afã, num certo período, tirar pedidos para compradores de mudas de árvores frutíferas que os pequenos agricultores plantavam em suas propriedades, formando seus pomares. Eram laranjeiras (a maior parte de umbigo), bergamoteiras, limoeiros, pessegueiros, pereiras, macieiras, parreiras e outras espécies diversas, que chegavam acondicionadas em fardos de capim, pelo trem de carga que passava na localidade. Vinham das colônias velhas, como afirmava, (Estância Velha), e o destino era o Planalto Médio onde residia com sua família em uma casa grande de porão e frente para comércio que exercia em pequena escala. Essa atividade que desempenhava com muita dedicação poderia ser considerada um bico, mas que lhe dava muita satisfação. Ele mesmo formara seus arvoredos nas três ou quatro residências em que habitara e se orgulhava disso.
Quantas vezes, à tardinha, sentava-se na varanda toda envidraçada, e olhando ao longe aqueles pomares florescendo ou frutificando, se embevecia perante a paisagem! Se fosse pintor, quem sabe, não a transporia para a tela?! Entretanto, permanecia largos momentos contemplando-a e as árvores pareciam ser seus filhos adotivos a preencherem-lhe os dias da modesta existência. Considerava-se o responsável, ou melhor, um dos responsáveis pela difusão da fruticultura naquelas plagas e embora não representasse muito, tinha a certeza de que fizera algo para o bem-estar do próximo. Todos os anos quando chegava a época da colheita se lembravam dele, ao verem os galhos carregados de frutos saborosos. De fato, exercendo esse mister, unira o útil ao agradável, uma vez que sentia uma verdadeira atração para o ramo escolhido, ou seja, presenciar a natureza florescer e frutificar. À sua maneira era um naturalista no sentido mais prático da palavra naturalismo, i. e., “estado daquilo que é produzido pela natureza”. Assim pensava sem muita sofisticação. Tinha amor às plantas em geral, pois em seu íntimo sabia que elas eram necessárias e imprescindíveis para a vida.
Depois de muitos outonos, em certa madrugada, partira num final de primavera, deixando por aqui muitas árvores frutíferas espalhadas, florescendo e frutificando para os que ficaram. Em seu funeral viam-se diversos dos que foram seus fregueses, acompanhando-o à sua derradeira morada. Essa foi uma das múltiplas facetas do meu pai, hoje residindo nas plagas do Além, onde, quiçá, esteja tirando pedidos de venda de mudas de frutas, para os que, inexoravelmente, lá estejam em sua companhia. Que o Céu os abrigue na felicidade do Pomar Eterno!
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Poeta e cronista
DIÁRO DE CANOAS – EM 10.12.09
Publicado em 09 de novembro de 1999 - no Diário de Canoas.