CAMINHANDO NAS SOMBRAS

Caminho pelas sombras desde meu nascimento. Sou hoje o próprio “Breu”; o verdadeiro tormento. Me afogo em recordações e delas, retiro meu ânimo latente; faço de meus dias na escuridão uma dádiva, um presente.

É preciso aprender a conviver com os doentes para saber o que significa saúde.

Caminhei por dias a fio sem cessar, e enquanto caminhava, observava daqui de baixo o cume deste abismo em que resido. Os habitantes da superfície me veem como resíduos, apenas lixo; me veem como àquilo que efetivamente não sou!

Em busca de um ombro amigo me deparei com três colossos: O Ódio, A Tristeza e a Saudade.

O Ódio me fascinava e confesso que ainda me fascina. Foi “amor à primeira vista”; ele sempre tão impiedoso e audaz, trazia consigo nos olhos o que os meus sempre tiveram: Sede de vingança.

Mas hoje me sinto sóbrio, sou mais do que já fui, e menos do que serei.

Sobre a Tristeza? Uma amiga e companheira sincera. Eternamente ao meu lado, sempre disposta a me confortar em seu colo melancólico e úmido.

Quanto a Saudade. Bem, ela é indecifrável deste sempre. Enigmática ao extremo. Nunca compreendi o porquê de sentir saudades daquilo que nunca tive. Família, lar, carinhos... mas o fato é que sinto saudade, e dela sou refém; carcereiro; vítima e algoz.