AUSÊNCIA DE AMOR - conto de Ialmar Pio Schneider - Tenho procurado retirar subsídios nos livros que leio com alguma assiduidade, para escrever as páginas dos meus relatos e observações pessoais, como o faço aqui e agora. Creio na literatura em geral,
AUSÊNCIA DE AMOR
IALMAR PIO SCHNEIDER
Tenho procurado retirar subsídios nos livros que leio com alguma assiduidade, para escrever as páginas dos meus relatos e observações pessoais, como o faço aqui e agora. Creio na literatura em geral, pois representando o pensamento de seus autores, vem suprir meu ideal de compreensão nos destinos da existência. Nada foi escrito em vão, desde os primórdios da humanidade até os nossos dias e continuará sendo, certamente, no futuro. A lógica confirma isto, uma vez que a comunicação entre os seres humanos se faz por meio da escrita, embora o grande avanço da tecnologia neste setor. O assunto a ser abordado, a meu ver e de muitos outros, é universal e palpitante. Quantos dramas não acontecem em conseqüência deste motivo que não é banal ?! Serve de reflexão para uma vida menos árdua e mais amena, senão satisfatória e feliz. Dir-se-ia que o amor deverá ser o leitmotiv presente no coração de todos os mortais, para atingir a plenitude do espírito inquieto.
No romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, vamos encontrar uma significativa falta de amor, notadamente por parte do principal personagem e narrador da história: Paulo Honório. Podemos entender este seu comportamento devido às agruras da vida, que já desde a infância miserável, teve que passar. Quando jovem matou uma pessoa, tendo ficado alguns anos na cadeia. Depois, trabalhou no eito e foi se recalcando. Assim transcorrem as primeiras páginas do livro.
Passados alguns anos, Paulo Honório resolve se apossar da fazenda “São Bernardo” onde trabalhara tempos atrás. Para fazê-lo trama uma armadilha ao herdeiro da propriedade, o Padilha Filho, que é bêbado e jogador inveterado de bilhar. Empresta-lhe dinheiro para o jogo, que o Padilha vai queimando, até chegar à hipoteca do imóvel. Daí até chegar à posse foi um tapa; e a escritura foi assinada sem mais delongas.
Paulo Honório, agora já proprietário da fazenda, começa a desenvolver uma administração satisfatória, conseguindo bons resultados em seus empreendimentos. Vai de vento em popa. Adquire prestígio e dinheiro lhe sobra.
Dada à situação em que se encontra, resolve casar, não tanto por amor, mas para deixar um herdeiro. Encontra Madalena, jovem professora, loira e bonita e em breve está casado. Sua consorte, que é humanitária e meiga, dedica muita afeição às pessoas humildes da fazenda, o que causa em Paulo Honório, um terrível ciúme doentio. Começam as desavenças do casal e Madalena suicida-se, deixando-lhe um filho.
Já então quase no final do romance, Paulo Honório está sozinho e resolve escrever sua história. Seu desabafo não poderia ser mais dramático:
“- Estraguei a minha vida, estraguei-a estupidamente”.
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Poeta e cronista
Publicado em 31 de março de 2000 - no Diário de Canoas.