CARIDADE

A moça da banquinha de merenda estava pouco a vontade. Seu rosto estava sério e expressava desejo de que o tempo passasse rápido.

- Quanto é o sanduíche? –perguntou um homem de calça clara, frouxa e suja.

- Dois reais. - Respondeu ela.

- E o café?

- Um real!

- Me dá o sanduíche pelos dois reais e o café de brinde?

- Não! – Respondeu a moça! – Não posso!

O homem é magro, de barba grande e ruiva, a blusa é aberta até a altura do peito. Os pelos do peito estão a mostra; são vermelhos como seus cabelos.

Ele dá um sorriso.

- Me dê só o pão com um pouco de manteiga pelos dois reais. O café você me dá de cortesia.

- Não tenho manteiga!

- Então me venda somente o pão e o café pelos dois reais.

Ele lhe dá o dinheiro e ela lhe entrega o pão. Enche pela metade um copo descartável com café.

Ele devolve o pão pedindo para que seja cortado no meio.

- Você não pode botar nem um ovinho? – Insiste o homem.

- Não! – Responde a moça.

- Certo! Só corte o pão, por favor.

Ela corta. Entrega o pão e o café em seguida.

Ele abre o pão e derrama um pouco do café em cada banda, deixando ainda uns dois curtos goles no copo e se vai. Um passo, uma mordida, outro passo um gole de café. Quatro passos depois se acabaram o café e o pão.