O FILÓSOFO E O EMPÓRIO - Conto de Ialmar Pio Schneider - Houve uma fase na existência do jovem Camilo que ele se preocupava demasiadamente por não ter inúmeras coisas que os filhos dos ricos possuíam. Sentia-se muito frustrado pelo fato de não dispor
O FILÓSOFO E O EMPÓRIO
IALMAR PIO SCHNEIDER
Houve uma fase na existência do jovem Camilo que ele se preocupava demasiadamente por não ter inúmeras coisas que os filhos dos ricos possuíam. Sentia-se muito frustrado pelo fato de não dispor de uma bicicleta sofisticada, de um aparelhamento de som dos mais modernos. Chegava a sonhar com um automóvel novinho em folha, desses da linha popular da época, tais como Volks Wagen (Fusca), Dauphine e depois Gordini. Por enquanto, isso não era possível, pois seus pais eram pobres e ele estava ainda estudando com muitas dificuldades financeiras até para adquirir os livros. Só havia um caminho a seguir: era o estudo e o trabalho. Dedicava-se a essas tarefas com a esperança de atingir seu intento e cultivava um lema: Hei de vencer !
Procuraram impingir-lhe que só seria feliz se tivesse uma boa qualidade de vida e não se juntasse grande quantidade de bens materiais. Mas ele não queria acreditar nisto. Contaram-lhe, então, a história do filósofo Sócrates, mais ou menos nos seguintes termos.
Em certa tarde saíra a caminhar com seus discípulos, e quando iam passando por um empório, o mestre falou: - Hoje estou me sentindo o homem mais feliz do mundo, pois não preciso de nada que estão vendendo aqui.
Desta maneira ensinava que é melhor ser do que ter. O sábio grego apregoava sua divisa: Conhece-te a ti mesmo. Deste preceito surgiria a sua filosofia baseada no diálogo. Partindo do princípio de que só sei que nada sei consegue cativar e perquirir seus seguidores a fim de ministrar-lhe seus ensinamentos, igualando-se a eles e levando-os ao conhecimento de sua doutrina de auto-análise.
Jornal NH em 4.11.2010
Foi, acima de tudo, um inovador no mundo filosófico. Não deixou nada escrito. Só se conhece seu pensamento através das obras de Platão, Xenofonte, Aristóteles e Aristófanes. Não tendo sido compreendido pelos conservadores de Atenas, foi denunciado como subversivo, por deixar de crer nos deuses da cidade e corromper a juventude, e condenado à morte, obrigado a ingerir cicuta na prisão em 399 a.C. Sua doutrina, entretanto, atravessou os séculos e talvez nunca tenha sido superada, por tudo que representou aos pósteros.
Nos dias atuais, porém, quando o progresso atinge um índice de tamanho desenvolvimento no setor da tecnologia, já não se pode pensar assim, uma vez que são as mil e uma utilidades existentes que suprem as nossas necessidades. Ao longo do tempo a humanidade foi se amoldando conforme as descobertas de novos produtos de cuja exigência não mais prescinde. Parece ser uma lei natural da evolução.
Por isso que todos os homens carecem dos bens de consumo para viver, ainda mais quando a modernidade oferece tantas alternativas de escolha. Quem não se adaptar vai ficar à margem e sem participação no festim deste Universo envolto no mistério infinito.
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Poeta e cronista
Publicado em 15 de novembro de 2000 - no Diário de Canoas.