Eu não gosto de poesia
“Eu não gosto de poesia!” – afirmou ele, em alto e bom som.
Pobre homem, mal sabe ele que a poesia tá no João de Barro construindo aos poucos sua casa, poesia tá no trem que passa sobre os trilhos, soltando fumaça. Poesia tá no moço que toca pandeiro todos os dias próximo a Estação Central. Tá no morador de rua acariciando um cachorro amigo. Poesia tá no cheiro do café de manhã. Tá nos raios do sol que passam pela janela, no fim da tarde. Poesia tá no barulho da chuva no telhado e no cheiro da terra quando por ela é molhada. Poesia tá na gargalhada da criança inocente que ri de qualquer graça que lhe faça. Tá no beijo de boa noite e no abraço apertado. Poesia tá no vidro da janela no ônibus que leva alguém para outra cidade. Tá na despedida e no reencontro. No agito e na calmaria. Tá nos formatos das nuvens branquinhas no céu. No moço que correu pela rua para não se atrasar para o trabalho. Poesia tá no vendedor de bala e no malabarista no sinal. Tá na comida com gosto de lar e na estrela brilhante perto da lua. Poesia tá no nascimento, no renascimento e até na morte. Poesia tá na vida, mas nem todos sabem ler. Não gostar de poesia é não saber sobre o viver.