A casa azul
Na esquina da minha rua tem uma casa azul com janelas brancas. Nela morava uma senhora idosa. Quando eu ia na padaria, ela estava debruçada no muro olhando o movimento. Eu a cumprimentava e ela respondia sorrindo e comentava sobre o tempo. Às vezes, ela passava por mim quando ia até a casa da filha que ficava bem no meio da quadra e sempre comentava comigo sobre alguma dor que dizia sentir. Caminhava lenta e dolorosamente. No verão, ela e a filha pegavam as cadeiras de praia e sentavam embaixo das árvores aproveitando a sombra e o frescor da tarde! Outras vizinhas se juntavam e a conversa fluía alegremente entre elas. Eu apenas passava por elas e as cumprimentava não sem uma pontinha de inveja. Eu não podia estar ali porque tenho uma filha autista e preciso estar com ela. Mas gostava de ver aquelas mulheres alegres com seus "nada pra fazer"!
Porém no meio do ano ela adoeceu de repente e morreu. E isto me trouxe grande tristeza. Nunca mais eu a veria ali debruçada no muro, nem rindo despreocupada com as outras mulheres! Nunca mais eu a encontraria no meio do caminho e ouviria sobre a dor na perna ou na coluna!
Hoje, passei em frente à casa azul e escutei as vozes alegres de duas crianças que brincavam no patio. Uma nova família mora ali agora. Não pude deixar de pensar que a vida se renova. Como um caleidoscópio, girou e mudou as peças de lugar. Nada está igual.
É um novo verão.