A missa
A Missa
Durante muito tempo na minha vida adulta, somente ia à missa quando era casamento ou missa do sétimo dia de morte. Contudo depois da morte do meu pai, procurando me agarrar a alguma coisa para entender a dor que se abateu sobre mim. Comecei a frequentar a igreja aos domingos. Então várias imagens da minha infância voltaram. Os cheiros, os cânticos, as pessoas que se criaram comigo. Engraçado, eu não sabia como essas lembranças estavam gravadas na minha memória afetiva. Tinha a mesma sensação de quando era criança e a minha mãe me obrigava ir à missa.
Gostava de sentar bem na frente para olhar as pessoas e, principalmente, adorava observar o padre e imaginava no que ele pensava quando rezava, se realmente, acreditava no que dizia. Aquele movimento das pessoas indo e vindo, os rostos tensos e pouco tristes como manda a religião católica. Mas, gostava muito, realmente, era de observar os trajes, todos muito arrumados com roupas domingueiras, parecia uma festa. Porém, havia uma coisa que nunca gostei, era o ”senta levanta”, sempre pensava que Deus é meio complicado, não se decidia se nos queria sentados ou em pé para rezar.
Entretanto, as missas não me trouxeram as certezas que tanto procuro, nem me fizeram entender a dor da perda. Gosto daquela sensação de proteção que encontro lá, do aconchego que tenho com a minha mãe, da paz que ela me dá, não sei se esses sentimentos são verdadeiros ou falsos. Há ainda dentro de mim um buraco, e de vez em quando me perco lá, e custo a retomar a minha vida adulta.
Gostaria imensamente de ser seduzida pela religião como muitas pessoas o são. Porém, tenho marcas de vida que me levaram para outras direções, principalmente, me deram descrenças, queria imensamente ter essa entrega, esse simplismo, essa consciência mágica que nos faz encontrar paz em dizer: eu possuo fé. Eu acredito. Mas, então se assola sobre mim um oco existencial, pois vejo crianças drogadas aos dez anos, mães usando bebês para pedir esmola nas portas de banco, uma criança de onze anos matando outra de seis anos, sem sentir culpa
O mais triste de tudo, as pessoas parecem anestesiadas, não ligam, fecham os olhos, tapam os ouvidos. Parece tudo normal. Então, eu pergunto: meu Deus, onde estás? Em que estrela te escondes? Não sei, pelo menos ainda não. Mas, quero achar, preciso, necessito encontrar-te para que eu recupere as minhas crenças de vida. Necessito buscar respostas para recuperar meus sonhos, meus ideais, pois eles se perderam em alguma esquina da minha desesperança. Quero ir à missa e rezar de alguma maneira em que eu acredite, e tenha tanta fé que possa derramar um pouco em todas as pessoas que eu amo.
Isa Piedras- 10/08/2006