JOÃOZINHO
Joãozinho:
Croniconto de Roberto Cardozo
Ele chegou a cidade ninguém sabe como, uns dizem que chegou de trem, outros que veio caminhando pela estrada. Na verdade ele simplesmente apareceu um dia, dirigiu-se a pensão da dona Mariazinha, e dizem que veio para ficar, pois pagou um mês adiantado. Homem simples, mas com grande preparo, falou em inglês ao telefone em um dia, em outro falou em francês, com tudo, era um homem simples, cumprimentava a todos, freqüentava os bares mais simples e os mais elegantes. Como ele se chamava? João, sim, João Aparecido, assim todos passaram a chamá-lo. O que ele fazia? Nada! Apenas passava o dia inteiro freqüentando bares, restaurantes, cafés, até os aposentados que se reunião na praça o conheciam, ele lá passava no mínimo três vezes por semana, e não tinha presa, ficava batendo papo, por horas a fio. Não havia nenhum enterro que ele não permanecesse ao velório, sempre ajudando os parentes do morto. Dinheiro? Não era problema para ele, quando o nível da sua conta no banco baixava, logo aparecia um novo credito vindo não se sabe donde. Alguém disse que ele passou a noite em um bar noturno, tocando violão e cantando junto com os bêbados, mas, somente tomou água mineral durante toda a noite. Fazia apenas três meses que ele estava na cidade e era a pessoa mais popular da região.
Certo dia estava na frente do frigorífico na hora em que os magarefes começavam a entrar, pegou a carrocinha de picolés abri a tampa e começou a distribuir na fila de entrada, a distribuição foi até que não restava nenhum picolé no contentor. Perguntou ao homem que os estava vendendo, quantos havia distribuído, pagou em moeda corrente. Outra feita uma anciã, saia do supermercado com duas sacolas cheias de viveres, justo no momento em que ele entrava. Parou, perguntou para a senhora se ele poderia ajudá-la a levar os mantimentos até a sua casa, como ela aceitou, foram rua a fora ele lavando as duas sacolas.
Por isso os grandes partidos o assediavam para que a ele se filiasse. Mas Joãozinho, nunca se decidia por nenhum. O maior partido da cidade o convidou para participar de uma reunião na sede do clube da cidade, era o partido do atual prefeito. Aquiesceu ao convite e compareceu no clube do Comércio, onde durante a reunião seria servido um jantar.
Logo após o jantar, um dos partidários, levantou e solicitou que o ilustre convidado o Sr. João Aparecido, lhes falasse sobre o que achava da atual política do nosso país. Joãozinho que estava a mesa junto com o prefeito, esposa, o presidente da câmara e esposa. Joãozinho levantou, e iniciou assim a sua fala:
Certa vez, na antiga Roma, época em que os cristãos eram jogados as feras para lhes servirem de pasto. Um home se espremia contra as grade da arena. A porta da jaula é aberta, um leão faminto adentra na câmara de espetáculo. O homem corre ao encontro da fera e lhe murmura algo ao ouvido. A fera cabisbaixa retorna para a sua jaula. Sabem o que o infeliz homem disse a fera? Que após o banquete haveria discursos. Excelentíssimo, Sr. Prefeito da cidade de Salcedos, Excelentíssimo Sr. Presidente da câmara de Veradores, meus senhores e minha senhoras...
Nessa oportunidade Joãozinho, falou sobre a macro economia do pais, sobre relações exteriores, sobre o capital e trabalho. Sem se colocar num ou noutro lado, mantendo-se neutro. Ao final de seu discurso, foi ovacionado, as pessoas não paravam de aplaudi-lo. Durante a reunião o Sr. Prefeito e o presidente do maior partido da cidade, convidaram Joãozinho para se filiar ao partido e concorrer nas próximas eleições ao caro de vereador. Joãozinho declinou do convite, dizendo que não tinha aspirações políticas.
Joãozinho merecia o diminutivo no nome, era um homem pequeno e franzino, olhos verdes, sempre escondidos por um par de óculos sombreado, cabelos grisalhos em grande abundância, pois não tinha propensões à calvície. O seu trajar era digno de um aristocrata, sempre vestindo um palito, ora claro, ora escuro, camisa de colarinho apertada por uma gravata borboleta.
Na pensão de dona Mariazinha chega uma comissão do menor partido da cidade, um partido pigmeu queriam falar com João Aparecido. Conversaram com ele, e com ele saíram, levando-o à sede do partido que ficava em dos barros da pequena cidade.
Assim se expressou o presidente do partido:
- Sr. João Aparecido, sabemos que recusou fazer parte do partido do prefeito, que o queria candidato a vereador. Nos do partido perseverante o convidamos a ser nosso candidato a prefeito. Joãozinho, relutou, ponderou e finalmente aceitou o convite. Mas colocou algumas condições, que após lançada a sua candidatura, fosse feita uma pesquisa, para ver da sua real aceitação dos eleitores.
E, que se tivesse uma aceitação significativa, mais da metade dos eleitores entrevistados, ele abdicaria a candidatura em favor de uma pessoa indicada pelo partido.
Os membros do partido acharam estranha a atitude de Joãozinho, mas aceitaram as condições impostas.
Quinze dias depois na sede do clube Cacheral na capital:
O mestre de cerimônia olha para o grande relógio de parede do clube e diz:
- Senhores! São precisamente 20 horas do dia 14 de setembro de 2005, portanto já é findo o prazo para o cumprimento da aposta, começamos a entrar nos 15 minutos de tolerância. Se o Sr. João Aparecido não comparecer dentro desse tempo a aposta será vencida pelo Sr. Ramires Furtado.
Eram 20 horas e 12 minutos, quando João Aparecido adentra na portaria do clube. O mestre de cerimônia se aproximando do microfone, disse:
- Atenção senhores, acaba de entrar no clube o Sr. João Aparecido.
João adentra na sala. Se dirige ao microfone e pegando-o diz:
- Boa noite a todos. Meus caros amigos! A precisamente cento e cinqüenta dias, nesta mesma sala, fui desafiado pelo meu conterrâneo e amigo Dr. Ramires Furtado a provar o que eu havia afirmado em meu discurso, de que no nosso pais, os representantes do povo são eleitos levando em conta os candidato e não o partido. Para tanto fizemos uma aposta que foi registrada no 3º cartório desta capital. Nela consta que eu deveria em 150 dias, apresentar provas cabais de que o que afirmara era verdadeiro. A cidade foi aleatoriamente escolhida, uma com menos de 20.000 eleitores. O resto seria fruto de minha imaginação. Neste ultimo momento, venho apresentar as provas, as quais devem ser examinadas e após aprovadas ou não pela comissão previamente escolhida por nós apostadores. As provas que apresentam são incontestáveis. A 150 dias atrás eu nem sabia da existência da cidade de Laguna Alta. Mas para lá parti, desenvolvi um trabalho de marketing pessoal, fui convidado pelo partido do atual prefeito, o maior partido da cidade, a candidatar-me a vereador, não aceitei. Terminei aceitando candidatar-me a prefeito pelo menor partido da cidade, quinze dias após a minha candidatura, as pesquisas apontaram-me como o candidato preferido por mais de 50% dos eleitores entrevistados. Aqui está o resultado da pesquisa no único jornal da cidade, que diz na manchete:
“SE AS ELEIÇOES FOSSEM HOJE JOÃOZINHO SERIA O NOVO PREFEITO DE LAGUNA ALTA”
Passo as provas à comissão julgadora.
A comissão não tardou a considerar João Aparecido como vencedor da aposta, e que o perdedor deveria fazer o pagamento naquele momento.
João pede a palavra e diz:
- Em Laguna Alta, tive a oportunidade de conviver com mais de 20 idosos que freqüentava a praça da cidade, a qual lhes servia de clube de reuniões, acontece que esses idosos nos dias de chuva e de muito frios, são obrigados a permanecer em suas casas. O maior desejo deles é de terem um local onde possam se reunir. Por isso quero destinar o valor total da aposta para a confraria dos aposentados de Laguna Alta, tudo conforme consta no registro de aposta feito no 3º cartório desta capital. Cabendo ao perdedor, meu amigo e correligionário, Dr. Ramires Furtado, providenciar tudo até a inauguração a qual nos dois devemos comparecer. Com a palavra o Dr. Ramires:
Tomando a palavra o Dr. Ramires, assim se expressou:
- Reconheço a derrota, e aqui está u cheque de R$ 500.000,00, com os quais vou construir a sede da confraria dos aposentados de Laguna Alta.
A festa varou a noite toda.
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