O Falsificador
O espanhol Fernando Alio era fascinado por quadros. Seu favorito era O Grito pintado em 1893 por Edvard Munch, um pintor norueguês expressionista, aos 30 anos de idade. Fernando era obcecado pela cena descrita na tela de Munch em que um homem grita para o mundo, mas ninguém o ouve, nem ele mesmo, já que tapa os ouvidos durante o grito. A paixão de Fernando Alio por quadros não era à toa. Ele era pintor e tinha extrema facilidade em copiar o estilo de “seus colegas” famosos e, talvez por isso, não possuía estilo próprio. Em outras palavras: para ele, era mais fácil copiar do que criar! E isto explica sua profissão: falsificador de quadros. Fernando Alio era tão bom “em sua arte” que vendia suas obras por preços tão caros quanto os de uma original. Nunca foi pego e enganava, sem dificuldade, marchands, colecionadores, leiloeiros e até peritos experientes. O “norueguês”, como Fernando Alio era conhecido entre os colecionadores por ser fã declarado de Edvard Munch, vivia no luxo e para o luxo. Seu lema de vida era aproveitar intensamente cada minuto, porque ele pode ser o último. Mulheres lindas, comidas e roupas caras, viagens para lugares dispendiosos e paradisíacos eram desfrutados pelo “norueguês” sem culpa. Dinheiro não era problema para ele, tempo sim. O falsificador descobriu que tinha uma doença incurável e que seu tempo na Terra estava contado. Ele tinha pouco mais de três meses de vida e, diante desta triste realidade, decidiu se despedir da vida com chave de ouro. Ia pintar um quadro que o eternizaria no rol dos grandes pintores, ainda que ele não vivesse para ver isso. Fernando Alio ia, aos trinta anos de idade, pela primeira vez em sua vida (e provavelmente a última), pintar um quadro sem imitar o estilo de nenhum pintor famoso, ou seja: ia pintar com seu próprio estilo. Um quadro do século XXI que se eternizaria e seria apreciado por séculos e séculos. Mas qual o tema que Fernando Alio usaria para pintar seu quadro. Eis a grande questão. Ele não tinha ideia. Ainda. Mas o tempo corria contra ele e cada segundo lhe era precioso, porque o relógio da vida é implacável. Após três dias de hesitação, o “norueguês” decidiu o tema que pintaria: a perenidade. Sim, pintaria sobre as coisas que não morrem, que são eternas, que como a Fênix renascem das próprias cinzas. Seu quadro seria sobre um jardim. Nele as flores não morrem, porque estão sempre renascendo da terra. Seu jardim seria de margaridas e teria abelhas, que colhendo o pólen e o néctar das flores propiciam sua reprodução e sua perpetuação na natureza, e haveria também um jardineiro, ele mesmo, Fernando Alio, um autorretrato.
O “norueguês” trabalhou arduamente em sua pintura e terminou-a poucos dias antes de morrer. Passados séculos e séculos, ele realmente ficou conhecido... como o maior falsificador de quadros de todos os tempos! Com o avanço da ciência, todas as falsificações de Fernando Alio foram descobertas e o dinheiro proveniente delas confiscado. Você, caro leitor, deve estar se perguntando o que aconteceu com a obra-prima de Fernando Alio, a pintura “O Jardim”, o último quadro pintado por ele em vida, o único quadro com seu próprio estilo e que ele acreditava que seria admirado por gerações e gerações. Pois é… foi para o lixo poucos dias após a morte do “norueguês”. Qualquer pintor amador pintaria aquela porcaria...
FIM