A Janela
Moro numa casa alta com grandes janelas.
Aqui não há relógios nem calendários.
Acordo normalmente antes do nascer do dia,
levanto, bebo água e vou ao banheiro, depois quase por instinto caminho sonolento até a janela e acendo um cigarro.
As vezes há mulheres nuas dormindo pela casa, na maioria das vezes na minha cama.
Penso que é deprimente compartilhar um tesão animalesco tão intenso como o sexo e não se poder compartilhar essa visão magnífica da janela...
Contemplo o antes do crepúsculo, a vizinhança emudece a rua com seus cachorros e sacolas velhas.
Ninguém passa durante muito tempo, não ouve-se muitos ruídos, nada acontece, a não ser pelo silêncio e a suave brisa que vez ou outra entra pela janela e circula toda casa arrebatando alguns papéis.
Até que o sol finalmente surge no horizonte, neste momento estou já no terceiro cigarro,
Termino-o e volto à deitar-me, quando acordo novamente já são mais de três da tarde, sei disso porque estou suando
E as vezes há bilhetes ou vagas lembranças de avisos...
E assim vão-se os dias, as noites, os bilhetes e os tantos crepúsculos, e o que resta, além da monótona rotina, é meu fascínio pela janela e minha vontade de saltá-la.