O mundo das letras
Há muito, muito tempo atrás, em algum lugar misterioso da Via Galáxia, existia um planeta. O nome ninguém sabia oficialmente. A única coisa que nos comentara é que seus habitantes não eram lá uns seres humanos, muito menos extraterrestres como acostumamos ouvir e vermos por aí.
Seus habitantes eram as letras. Isso mesmo! As letras que acostumamos a ver no nosso dia-a-dia. Só que, naquele tempo as letras não eram tão diversificadas como hoje. Por exemplo: a letra i, não tinha acento. Pelos que comentavam, nenhuma letra tinha acento. Os acentos que hoje vemos, não são letras, e sim, espécie de alguma arma que elas carregam, ao receio do que lhes aconteceram há anos atrás.
Comenta-se que essas mesmas letras foram os fortes guerrilheiros das grandes batalhas do “mundo das letras”. E que o “mundo das letras” só não se acabou de vez, graça às suas perseveranças.
Muitos anos se passaram e até hoje muitos dos que sobreviveram a essa batalha, carregam receios. O receio chega a ser tão grande que um forte exemplo é a letra “r”, hoje, para continuá-la com o som no meio das palavras, precisa do seu clone, porque senão, não se pronuncia o mesmo som. Dizem que podemos até persistir, mas, que o “r” jamais fica no som atual, exceto quando os colegas “n, r e l” antecedê-lo. Careca, barata, periquito, urubu estão de provas. O carro, o bezerro, a carreta também. Henrique, enrolado, enriquecidos, melro, palrar, são grandes exemplos.
Até hoje não se sabem explicar como foi realmente que tudo aconteceu, mas comenta-se que, se aquela guerra não tivesse acontecido; hoje, o nosso alfabeto não teria a existência dos dígrafos.
Era um mundo muito legal. Pois, não tinha a complicação do português que temos hoje. Foram os números que lhes guerrilharam, no intuito de aos dias de hoje ter o grande espaço cujo têm na nossa vida. Pois os números só se existiam por extenso. Nada era concreto. O rei e a rainha eram as duas primeiras letras, a letra “A” e a “B”.
Aquela guerra foi um verdadeiro holocausto. Dizem que as letras “b, p, m” só se combinam no meio de palavras se estiveram juntas, caso contrário, nem adianta perder o tempo persistindo-lhes. Sabe por quê? Porque no tempo da guerra, somente os três sobreviveram durante semanas aos contra-ataques, onde seus redutos foram bombardeados. Campo, bombom, bom, estão de provas. Tanto é que, as letras que não estiverem juntas, mas, se houver um sonzinho nas pronúncias próximo a eles; por falta das suas colaborações; necessita dos sinais dos guerrilheiros, para o som expressarmos. Mas, para isso tem um preço muito alto a pagar. Pois, quem anda com esse refúgio, de longe é avistado como um guerrilheiro. Um alvo predileto dos inimigos do mundo das letras.