Novo ano

Ela tinha um quê de antigamente. Mirou-se no espelho redondo examinando a tez quase pálida. Ela era ao mesmo tempo jovem e velha, seus olhos denotavam isso. Quem a olhava percebia que sua alma eram quito mais velha do que sua idade. Olhar-se em qualquer espelho era ter um deja vú imediato, seus sentidos a asseguravam que estava no lugar certo mas no tempo errado. Era especialista em descortinar desculpas, podia fechar os olhos e ouvir musicas antigas tocadas em tons tão diferentes da contemporaneidade que chegava a assustar, e era por isso que ela se sentia diferente todos os dias. Podia sentir todos os cheiros e gostos do passado. Sua liberdade não era saborosa e ela a não usaria fazer disso uma desculpa para desistir. Os seus sentidos antigos eram supostamente tidos como reticencias naquele mundo distinto. Não andaria para trás, colocaria toda sua fé em suas vontades. Ela era de verdade e, para assegurar-se que não fugiria iria destravar seu mundo e colocaria os pé no chão. Conheceria novos lugares e outras matemáticas. Sua cor era o vermelho, ele realçava sua palidez quase europeia. Seus sonhos eram loucura e desvaidade. A espera era algo que sempre esteve em todos o seu tempo. Seu desafio era confessar a si mesma seus pecados, não precisava de plateia ou terapia, sempre entendera que precisava matar um leão por dia para assegurar sua paz e tranquilidade. Por vezes se sentia um fóssil, mas havia uma jovialidade pungente em seu sorriso branco. Por vezes podia ver sua prole pelo espelho. Não tê-los era o mais acertado, uma vez que perdê-los por qualquer razão que fosse, seria insuportavelmente mortal, disso ela tinha certeza, medo e pavor, quem não o tivesse que atira-se a primeira pedra. Sua solidão era só sua, mas em precisava especular, todo mundo tinha telhado de vidro.. Ela sabia cuidar o que era valioso: amizades, gentilizas, sutilezas e alegrias. Ela era uma fera, defendendo seus ideais e desejos. Aquele havia sido uma ano revelador bem como se queria. Multidões passaram por ela, poucos a viram, muitos a enxergaram. Em sua comodidade até pagara para isso. Não tinha tantas pretensões, não fazia fita para ninguém. Haviam muitas coisas a relembrar, muitas alegrias a reviver e por vezes pensar se tornara cansativo, mais fácil aquietar-se e deixar o tempo agir. Era uma honra ter vivido todos aqueles momentos em suas quase cinco décadas daquela experiencia única de convivência consigo mesma. O que havia sido bonito em sua vida até então? Tentou reparar em seus olhos antigos refletidos no espelho, ela choraria, revivendo momentos de intensa peculiaridade de sentidos, esses momentos tinha sido poucos, é verdade, mas a intensidade com a qual se apresentaram não deixavam dúvidas de que eram especialíssimos e únicos. Não demostrava, mas era sempre intensa em tudo, mesmo que bocejasse. Esperava deixar ainda alguns legados, além de sua tenacidade e exemplo. A finitude era aterradora, ela sabia, assim se fazia urgente não deixar nada ao léu, incompleto ou não terminado. Mesmo no fim era possível mudar, bastava não distanciar-se e nem fazer-se de mouca. Faria pedidos de fim de ano, acenderia velas aos que mais precisassem de luz, doaria seu tempo, e distribuiria sorrisos perfumados em formas de agradecimento. Adotaria um mantra suave e continuo para acalentar sua alma, ela era apanas e tão somente uma mulher mas estava resoluta a chegar onde queria, deixar sua marca e quem sabe seu nome. "Feliz ano novo" disse a si mesma. No momento sua presença era necessária para si mesma, iria encontrar o que mais buscava, ela tinha fé, e por isso sabia que seu novo ano seria bom e que sua liberdade dali para frente seria sempre azul.

Lady Malibe

20.12.2018