O homem que guardava dinheiro no colchão
---- Mané, deixa de ser teimoso, lugar de dinheiro é no banco!
---- É não! Banco é tudo ladrão!
Virou o copo de cachaça numa talagada só. Fez uma careta mais feia que a sua própria careta, enxugou o beiço com as costas das mãos e complementou:
---- Há trinta anos que guardo debaixo do colchão e não é agora que vou mudar. Banco é tudo sem vergonha e eu é que não vou encher barriga de safado.
O Mané quando estava bêbado tinha a mania de falar alto, e pra se aparecer, principalmente quando o bar estava cheio, fazia questão que todo mundo escutasse o que ele estava falando.
---- Você é quem sabe! Depois não vai dizer que eu não avisei! --Advertiu o amigo.
Mané fez um gesto de deboche com as mãos, virou as costas e foi embora.
No outro dia apareceu chorando na pracinha onde o pessoal jogava dominó. Invadiram sua casa no comecinho da noite e levaram seus trinta anos de economias que ele guardava em um enorme baú debaixo da cama. Por sorte apenas dois galos na cabeça, por conta de não querer dizer onde estava o dinheiro. Na ameaça da terceira coronhada ele já entregou até a mãe. Por sorte não o mataram e antes de irem embora ainda zombaram com a cara dele:
--- Ai otário, daqui trinta anos a gente volta de novo! E vê se troca essa merda desse colchão! Tá cheirando a mijo.
Pobre Mané, trinta anos de economia evaporado em segundos. Mas uma coisa ele aprendeu: Dinheiro debaixo do colchão nunca mais. Ele agora tá guardando dentro do banheiro em um esconderijo debaixo do cestinho. Vamos torcer pra que dessa vez não de merda novamente.