Primeiro as Damas!!!...
Era fim de tarde, o comércio da cidade já havia fechado suas portas e Dona Vitória - uma simpática senhora já com idade bem avançada - necessitava deslocar a uma agência bancária e sacar somente a quantia necessária para a compra de seus tão preciosos remédios. Felizmente as farmácias permaneciam abertas e faziam o atendimento até mais tarde.
Dona Vitória não possuía nenhuma doença grave, mas naquela idade, qual a pessoa que não faz o uso contínuo de alguns medicamentos?
Era uma senhora extremamente simpática e fazia facilmente amizades, bastava que lhe concedessem alguns poucos minutos de atenção. Considerada uma dama da sociedade, sempre foi referência quando o assunto era elegância. Elegante em suas vestimentas, elegante em suas atitudes e, principalmente, elegante em suas palavras.
Era viúva há muito anos, mas ostentava com orgulho os mais de cinquenta anos de felicidade em que permaneceu casada. Naquele tempo o casamento era para toda a vida. Relacionamento este que lhe rendeu alguns filhos e muitos netos. Todos já adultos, inclusive os netos. Laura era uma das netas mais próximas a ela.
Os pais e avós costumam afirmar que não há preferência entre os filhos e netos, mas Dona Vitória citava um ditado antigo:
- Os dedos das mãos não são iguais!!!...
Todos possuem alguma diferença, filhos, netos, pais. Cada qual com seu jeito de ser, com seus temperamentos varáveis, com seus desejos e ambições. Com suas formas de lidar com as emoções e até mesmo a maneira de superar as dores e obstáculos que a vida impõe... Parecidos em alguns aspectos, mas totalmente diferentes em outros. É natural que haja mais afinidade entre determinadas pessoas, não necessariamente que haja menos amor em relação às demais. Por isso mesmo, Laura possuía muita proximidade com Dona Vitória – as coisas em comum as aproximavam.
Naquele dia Laura a acompanhava como sempre o fazia quando tinha um tempo livre. Dona Vitória também possuía muita confiança em Laura, principalmente quando se tratava de alguém para digitar sua senha no caixa eletrônico!
Aquela vetusta senhorinha nunca poderia imaginar que um dia uma máquina era quem lhe entregaria o seu precioso dinheirinho. Ainda mais para quem, durante muitos anos, guardava suas economias embaixo do próprio colchão.
Na verdade, Dona Vitória sempre foi uma ferrenha crítica da modernidade, principalmente dos relacionamentos modernos.
- Como eram bons os tempos de antigamente - dizia ela.
- As liberdades hoje assustam!!!...
Laura estacionou o carro em frente à agência e desembarcaram. Dona Vitória necessitava do auxílio de sua amada neta para descer do veículo. Apoiada com uma das mãos em sua bengala, a qual lhe acompanhava nos últimos anos e, com a outra, segurava com confiança o braço de Laura. Todo cuidado era necessário, Dona Vitória já havia se lesionado em uma queda.
Sem pressa, chegaram até a porta da agência e logo estavam no interior, junto aos caixas eletrônicos. Naquele momento, apenas as duas estavam presentes naquele local - exatamente como preferiam – sentiam-se mais seguras.
Pouco tempo se passou, a porta se abriu e por ela adentou um policial. Em razão do seu uniforme (parecia tão desconfortável) deduziram que se tratava de um policial militar. De início, ambas trocaram olhares com um certo ar de desgosto. Na semana anterior, Laura havia sido multada. Dona Vitória estava no banco traseiro do veículo e não utilizava o cinto de segurança. Mesmo após as diversas explicações e orientações do policial, demonstrando que era para a segurança dos ocupantes do veículo que o cinto de segurança deveria ser usado por todos. Que a pessoa que não faz uso do cinto é arremessada contra as demais em caso de acidente. Que essa é uma das causas principais de lesões e mortes. Contudo, a mágoa não foi desfeita de imediato.
Ao adentrar, com olhos atentos, mas já cansados, visualizou rapidamente todo o ambiente dos caixas (parecem estar sempre desconfiados de tudo). Sua fisionomia era de uma pessoa preocupada, com um semblante pesado. Aparentam nunca estar relaxados. Grande parte dos policiais eram assim, cumprimentavam as pessoas, mas dificilmente alguém lhes arrancava um sorriso.
Por certo havia terminado o seu turno de serviço e passara no banco para retirar o seu parco salário, afinal, era fim de mês.
Cumprimentou rapidamente as duas com um rápido aceno de cabeça, ao que lhe retribuíram também com um breve e “forçado” sorriso. Quando se pôs a utilizar um dos caixas.
As operações terminaram praticamente ao mesmo tempo. Dona Vitória e Laura dirigiram-se lentamente até a porta de saída. O policial chegou pouco antes, momento em que fez uma pequena pausa e aguardou a chegada das duas. Olharam-se desconfiadas e com estranheza.
Então ele abriu a porta e fez sinal com a mão para que passassem. Dona Vitória não escondeu sua felicidade e ficou até comovida, pois sequer se recordava da última vez que um homem lhe havia feito tão simples gentileza.
Com a intenção de agradecer a atitude e, quem sabe, iniciar um diálogo com o policial militar, ela disse:
- Primeiro os mais velhos né???!!! E o fitou por breves segundos com um ar de interrogação...
- Primeiro os mais velhos não!!!... Respondeu o policial militar.
Ficaram surpresas com a resposta... Quando ele também a olhou nos olhos, já com um semblante mais leve e educadamente continuou com sua resposta:
- Primeiro os mais velhos não minha senhora!!!
E concluiu:
- Primeiro as damas!!!...
Era uma senhora extremamente simpática e fazia facilmente amizades, bastava que lhe concedessem alguns poucos minutos de atenção. Considerada uma dama da sociedade, sempre foi referência quando o assunto era elegância. Elegante em suas vestimentas, elegante em suas atitudes e, principalmente, elegante em suas palavras.
Era viúva há muito anos, mas ostentava com orgulho os mais de cinquenta anos de felicidade em que permaneceu casada. Naquele tempo o casamento era para toda a vida. Relacionamento este que lhe rendeu alguns filhos e muitos netos. Todos já adultos, inclusive os netos. Laura era uma das netas mais próximas a ela.
Os pais e avós costumam afirmar que não há preferência entre os filhos e netos, mas Dona Vitória citava um ditado antigo:
- Os dedos das mãos não são iguais!!!...
Todos possuem alguma diferença, filhos, netos, pais. Cada qual com seu jeito de ser, com seus temperamentos varáveis, com seus desejos e ambições. Com suas formas de lidar com as emoções e até mesmo a maneira de superar as dores e obstáculos que a vida impõe... Parecidos em alguns aspectos, mas totalmente diferentes em outros. É natural que haja mais afinidade entre determinadas pessoas, não necessariamente que haja menos amor em relação às demais. Por isso mesmo, Laura possuía muita proximidade com Dona Vitória – as coisas em comum as aproximavam.
Naquele dia Laura a acompanhava como sempre o fazia quando tinha um tempo livre. Dona Vitória também possuía muita confiança em Laura, principalmente quando se tratava de alguém para digitar sua senha no caixa eletrônico!
Aquela vetusta senhorinha nunca poderia imaginar que um dia uma máquina era quem lhe entregaria o seu precioso dinheirinho. Ainda mais para quem, durante muitos anos, guardava suas economias embaixo do próprio colchão.
Na verdade, Dona Vitória sempre foi uma ferrenha crítica da modernidade, principalmente dos relacionamentos modernos.
- Como eram bons os tempos de antigamente - dizia ela.
- As liberdades hoje assustam!!!...
Laura estacionou o carro em frente à agência e desembarcaram. Dona Vitória necessitava do auxílio de sua amada neta para descer do veículo. Apoiada com uma das mãos em sua bengala, a qual lhe acompanhava nos últimos anos e, com a outra, segurava com confiança o braço de Laura. Todo cuidado era necessário, Dona Vitória já havia se lesionado em uma queda.
Sem pressa, chegaram até a porta da agência e logo estavam no interior, junto aos caixas eletrônicos. Naquele momento, apenas as duas estavam presentes naquele local - exatamente como preferiam – sentiam-se mais seguras.
Pouco tempo se passou, a porta se abriu e por ela adentou um policial. Em razão do seu uniforme (parecia tão desconfortável) deduziram que se tratava de um policial militar. De início, ambas trocaram olhares com um certo ar de desgosto. Na semana anterior, Laura havia sido multada. Dona Vitória estava no banco traseiro do veículo e não utilizava o cinto de segurança. Mesmo após as diversas explicações e orientações do policial, demonstrando que era para a segurança dos ocupantes do veículo que o cinto de segurança deveria ser usado por todos. Que a pessoa que não faz uso do cinto é arremessada contra as demais em caso de acidente. Que essa é uma das causas principais de lesões e mortes. Contudo, a mágoa não foi desfeita de imediato.
Ao adentrar, com olhos atentos, mas já cansados, visualizou rapidamente todo o ambiente dos caixas (parecem estar sempre desconfiados de tudo). Sua fisionomia era de uma pessoa preocupada, com um semblante pesado. Aparentam nunca estar relaxados. Grande parte dos policiais eram assim, cumprimentavam as pessoas, mas dificilmente alguém lhes arrancava um sorriso.
Por certo havia terminado o seu turno de serviço e passara no banco para retirar o seu parco salário, afinal, era fim de mês.
Cumprimentou rapidamente as duas com um rápido aceno de cabeça, ao que lhe retribuíram também com um breve e “forçado” sorriso. Quando se pôs a utilizar um dos caixas.
As operações terminaram praticamente ao mesmo tempo. Dona Vitória e Laura dirigiram-se lentamente até a porta de saída. O policial chegou pouco antes, momento em que fez uma pequena pausa e aguardou a chegada das duas. Olharam-se desconfiadas e com estranheza.
Então ele abriu a porta e fez sinal com a mão para que passassem. Dona Vitória não escondeu sua felicidade e ficou até comovida, pois sequer se recordava da última vez que um homem lhe havia feito tão simples gentileza.
Com a intenção de agradecer a atitude e, quem sabe, iniciar um diálogo com o policial militar, ela disse:
- Primeiro os mais velhos né???!!! E o fitou por breves segundos com um ar de interrogação...
- Primeiro os mais velhos não!!!... Respondeu o policial militar.
Ficaram surpresas com a resposta... Quando ele também a olhou nos olhos, já com um semblante mais leve e educadamente continuou com sua resposta:
- Primeiro os mais velhos não minha senhora!!!
E concluiu:
- Primeiro as damas!!!...