NOITE FELIZ.

A bela e pequena aldeia de Oberndorf ainda dormia quando o bom padre Joseph Mohr preparava seu desjejum. O aroma delicioso de chá invadiu a casa paroquial naquela manhã de 24 de dezembro de 1818. O rio Salzach banhava o vilarejo dos alpes, na região de Salzburgo, na Àustria. A casa estava enfeitada para o natal. Meias coloridas na lareira e um pinheirinho com frutas penduradas nos galhos. -" Ahhh! Um homem que não gosta de croissant nem um pouco sabe viver!!!" Disse o sacerdote, passando manteiga no pão. Tradicionalmente, passou geléia de uva sobre a manteiga. Queijo, presunto, croissant, leite, geléia e frutas. Uma bela refeição digna da véspera de natal. -"Grato, Senhor, por esse alimento!!! Me sinto bem pra limpar a capela e preparar a missa do galo!!!" Ele abriu a porta e aspirou o ar puro que vinha das montanhas geladas. Amava caminhadas e montanhismo. Dizia que no alto das montanhas estaria mais perto de Deus. Saiu com os primeiros raios de sol, carregando balde, vassoura e pano de chão. Tomou o rumo da igreja de São Nicolau. Olav, o jornaleiro, o cumprimentou. -" Bom dia, padre!! A sua bênção. Pulou cedo!!!" O padre sorriu. -" Bom dia. Deus o abençoe!! Tenho muito trabalho. Vou preparar a capela pra missa do galo." O jornaleiro o seguiu. -" Eu o ajudarei! Amanhã é natal. O maior evento da humanidade quando Deus se fez homem a fim de nos resgatar!!" O padre o abraçou. -" Isso mesmo. Eu aceito sua ajuda, amigo!!" Tempo depois, eles retiraram os bancos pra fora da capela. Gustav e Antony, dois jovens, chegaram para ajudar nas tarefas. Olav limpava os vitrais enquanto o padre e Antony cuidavam do órgão musical. O jovem Antony tentou tocar uma nota no instrumento mas nenhum som saiu. -"Estranho!!!' Disse o padre. Gustav abriu o instrumento e de dentro saíram correndo dois ratos gordos. Olav cercou os roedores e pegou um deles. O outro escapou. O padre notou que os bichos haviam roído os foles do órgão. Desolado, sentou-se nos degraus do altar. -"Nossa cantata de natal vai ser um fiasco!!! Que faremos sem órgão??? Gritou o sacerdote. Os jovens tentavam consolar o padre. -" Vai dar tudo certo, padre Joseph. Deus vai interceder pelo nosso natal!!" O padre cobriu o rosto com as mãos. Duas horas de trabalho e terminaram o trabalho. Os jovens se foram. O padre ficou mais um pouco pra orar. Um ou outro paroquiano chegava e puxava assunto. O padre falava do instrumento avariado pelos roedores. Ele foi pra casa e no caminho resolveu caminhar pela montanha. Ficaria longe de comentários e perguntas. Talvez no alto teria uma inspiração. Era o único órgão da cidade. Não havia tempo pra comprar foles novos na capital. Teria de contratar um profissional gabaritado para consertar o instrumento. O padre caminhava e orava. Seria o primeiro natal da nova paróquia e ele queria fazer algo especial. Todos os hinos foram ensaiados pelo coral sacro tendo por base o acompanhamento do órgão e agora ele não tinha um!! Quase duas horas da tarde e ele resolveu voltar. Olhou do alto para o vilarejo. -"Deus vai nos ajudar a fazer dessa noite uma noite proveitosa e feliz!!! Faremos o melhor!!!" Ele sorriu. Parou de andar. -" Noite feliz, silenciosa, proveitosa??? Obrigado, meu Senhor!! Meu poema. Escrevi-o há algum tempo!!! Versos sobre o nascimento de Jesus!!!" Ele correu pra sua casa e revirou o quarto. -" Estava aqui." Dizia a si mesmo enquanto procurava sua obra. Não a encontrou. Rumou para a igreja. A sacristia. Revirou as gavetas. Dentro da Bíblia. Salmos de Davi. Estava ali o poema. Ele o beijou. Saiu da igreja. Tinha muita pressa. Quase correndo pelas ruas de Oberndorf, viu ao longe a casa de seu amigo, o professor e músico Franz Gruber. Mary, esposa do professor, o recebeu. -" Boa tarde, padre. A sua bênção. Franz está no estúdio de música no porão. Ele vai ficar feliz ao saber que está aqui!!" O padre estava ansioso. -" Boa tarde. Deus a abençoe. Preciso da ajuda de Franz!!!!" O professor veio até a sala de estar e saudou o padre. O sacerdote relatou-lhe tudo o que acontecera com seu instrumento musical. - " De fato, muito triste o que ocorreu!!!" Disse Franz. O sacerdote deu-lhe seu poema. -" Quero que olhe esse meu poema. Chama-se Stille Nacht, noite silenciosa. Peço-lhe que coloque melodia e harmonia nele para o ensaiarmos hoje!! Acompanharemos ao violão!" Franz leu todo o poema em voz alta. Mary gostou do que ouviu. -" Lamento, padre. Embora simples e singelo, levaria dias pra passar pra partitura. Um arranjo bom. Leva tempo e isso não temos!!!" O padre olhou-o, suplicante. -"Tem mais de seis horas pela frente pois nosso ensaio será às vinte e uma horas!!! Confio em seu talento, amigo!!!" Franz olhou pra esposa. Ela sorria. -" Certo. Com pressa mas eu farei o meu melhor, padre! O amigo vai ter uma canção natalina!!!" O padre o abraçou, feliz. -" Vou cuidar dos preparativos. Pedirei ao Senhor e ao coral de anjos que o inspirem, Franz!!!" O padre se foi. O professor se trancou no porão com o poema. Mary foi cuidar de seus afazeres. Duas horas e meia depois, ela levou leite com um pedaço do bolo de nozes, que fizera pra ceia, ao marido. -" Com licença, Franz! Uma pausa pra relaxar!!!" Ele demonstrava cansaço. -"Não é boa hora pra uma pausa. tenho pressa!" Mary sorriu. -" A pausa faz parte da música. Nela nem existe música mas o maestro marca o compasso como se existisse! Me ensinou isso, lembra-se???Pausas são nossas dores, lutas, fracassos, sofrimentos e angustias mas, nesses momentos, o maestro divino segue marcando o compasso da música de nossas vidas! Você pode e vai fazer algo maravilhoso hoje, Franz!! Eu creio!!!" O professor deixou o violão de lado e a abraçou. -" Lindo o que disse agora, querida. Obrigado pelo lanche!!!" As horas passaram. A noite caiu. Na capela, o coral de vinte e duas vozes estava paramentado com túnicas brancas e capas vermelhas com detalhes dourados. O padre Joseph, andava ansioso de um lado pra outro. Eram mais de vinte horas e o professor não aparecia. Enfim, Franz Gruber e Mary entraram na igreja. Um monte de folhas de partituras e o violão. O ensaio aconteceria, afinal. A canção foi ensaiada diversas vezes. Os paroquianos lotaram a igreja pra celebração. O padre quis ensiná-los o novo hino. Mary estava emocionada. O padre estava maravilhado com aquela obra prima. Os paroquianos aprenderam a letra de imediato. Era simples, singela e bela. Foi uma missa linda e memorável. O padre agradeceu muito ao professor, pedindo que os fiéis o aplaudissem ao final da culto. Quatro semanas depois, o padre contratou um profissional de Viena pra consertar o órgão. O rapaz pediu, ao terminar sua tarefa, uma partitura pra afinar e testar o instrumento. O padre deu-lhe a partitura de Stille Nacht. O rapaz tocou-a e ficou encantado. Pediu uma cópia ao padre. -" Leve-a, filho. pertence a igreja!!!" E assinou seu nome e o de Franz Gruber como autores. Por todas as igrejas onde passava, aquele rapaz divulgava o hino. Anos depois chegava aos ouvidos do rei Friedrich Wilhelm IV, da Prússia. O rei ficou maravilhado. O hino se espalhou rapidamente pela Alemanha e resto da Europa. Em 1838, viajantes alemães levaram-no pra Nova York. Ganhou as Américas e o mundo. Gravada por centenas de intérpretes, entre eles Elvis Presley, Frank Sinatra e Luciano Pavarotti, tornou-se o hino oficial do natal. A UNESCO consagrou-a como patrimonio cultural da humanidade. Stille Nacht, noite silenciosa em alemão original, foi traduzida para a língua portuguesa como NOITE FELIZ!!!!! (baseado em fatos reais) F I M.

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 06/12/2018
Reeditado em 06/12/2018
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