A santa chorou
A santa chorou
Mistérios e milagres existem. Contava Dona Anita que Deus a tenha em bom lugar começou sua antiga vizinha a narrar na roda de crochê e outros artesanatos que frequentava as quartas-feiras no salão da igreja.
“A Anita tinha trocado uma imagem de Nossa Senhora Aparecida muito bonita, uns dias depois antes de ela viajar para São Paulo para visitar o filho recém-casado, ela pediu para o Padre Jorge abençoar a santa para só depois coloca-la num altar em sua casa”. Após a benção a imagem da santa foi colocada no altar, ela fez suas orações especialmente para seu filho Marcelo. Logo depois, recolheu-se e foi dormir.
No dia seguinte, após o café da manhã, ela abriu o quarto onde ficava o altar e aproximando-se do altar levou um grande susto. A imagem da santa estava toda molhada e de seus olhos escorriam lágrimas. Ela chamou a filha Sandra, e a netinha Soraia, as três ficaram tão assustadas com o acontecido. Olharam para o teto do quarto e para tudo o que rodeava o local onde a imagem estava não encontrando nada que pudesse explicar o fato.
No dia seguinte a filha e a neta acompanharam-na para o terminal rodoviário onde ela pegaria o ônibus para São Paulo. Chegando a São Paulo ela foi recepcionada pela nora e o filho Marcelo. Logo ao chegar a casa, ela observou a cara amarrada da nora, mas não sabia o por que. Esperaria uns dias para tocar no assunto. O filho encontrava-se adoentado e ela o acompanhou ao medico, aos exames e demais formalidades necessárias, pois a nora tinha arranjado um emprego e não queria ter muitas faltas para não ser despedida. O tempo foi passando, o filho foi melhorando, talvez pelo cuidado e carinho maternos, pensava Anita. Um dia foi apanhar alguma coisa no quarto do filho e ao abrir uma gaveta, deu com dois vidros pequenos e escuros ainda contendo uns pós estranhos. Ela guardou consigo os vidros e não comentou nada com o filho, nem a nora. Desse dia, em diante a nora, passou a maltratá-la mostrando-se visivelmente irritada com o desaparecimento dos vidros.
Anita chorava as escondidas do filho para não magoá-lo e nem ter que revelar a verdade, da nora porque não queria mostrar-lhe sua tristeza. Já quase no final do ano, alegou saudades de casa, arrumou as malas e voltou para sua casa. Chegando a sua cidade, procurou um antigo e velho amigo, o Dr. João Paulo. Os vidros foram endereçados para um laboratório analisar os conteúdos. Não deu outra resposta, as substâncias encontradas eram venenosas e causavam sintomas leves, até acabar com a pessoa que os ingeria. Os sintomas coincidiam com os do Marcelo. Ela ficou mais preocupada, sem saber o que fazer longe do filho. Todos os dias ela rezava aos pés de Nossa Senhora Aparecida e pedia que as lágrimas que a santa tinha derramado, fossem um bálsamo e sua nora não conseguisse matar seu filho. Dois dias antes do vá Natal, ela recebia seu filho voltando para casa, sem a nora. Enfim, ele estava livre e com o tempo, contou para sua mãe o sofrimento que vinha passando com a esposa má, perversa e infiel. Contou tudo para a mãe com riqueza de detalhes, inclusive que sabia que ela tinha amantes, e mentia dizendo que estava trabalhando, mas na verdade ela estava na rua, fazendo outras coisas. Contou que teve uma briga com a esposa e ele passou muito mal, chegando a ser hospitalizado. Não quis contar para a mãe quando esteve junto deles, pois ele desejava de coração continuar com seu casamento apesar das desavenças e desencontros. Quando sua mãe perguntou-lhe a data do ocorrido à mãe lembrou-se do acontecido com a santa. Contaram com pormenores os detalhes do choro e das lágrimas de Nossa Senhora Aparecida, ai ele falou: - Mãe eu estava no hospital e só via a senhora e a imagem de Nossa Senhora Aparecida ao seu lado, eu não tinha forças nem para falar, mas pedia em minha mente que eu não queria morrer. E via a senhora sempre ao lado de Nossa Senhora Aparecida. Anita, então mostrou os frascos que ela encontrou na gaveta do quarto de Marcelo e os boletins de analise das substâncias. Ficou mais decepcionado com a esposa. Sabia que algo estava errado, ela estava interessada em sua morte, pois além de receber o seguro, iria ficar com uma boa pensão, e herdaria sozinho o apartamento que Marcelo tinha comprado antes de casar. Sentiu-se feliz por estar vivo. Resolveu procurar um emprego novo, e permanecer longe da desditosa mulher. Contratou um advogado para providenciar o divórcio, vender o apartamento, enfim, iniciou uma nova vida. E todos os anos, seguia com sua mãezinha até o santuário de Nossa Senhora Aparecida para agradecer o milagre de estar vivo e com saúde perto de sua família.
Vinte e tantos anos se passaram, um dia encontrou com um conhecido que vinha de São Paulo. Ele contou-lhe as novidades, e falou sobre a maldosa ex de Marcelo. Que ela vinha passando muitos problemas com um homem que com ela morava, inclusive era espancada, que estava muito doente e quase não enxergava mais. Marcelo ouviu a narrativa, sem fazer julgamentos e mudou logo de assunto. Não lhe interessava especular sobre a vida que sua ex levava atualmente. Queria apenas ser feliz, livre de sua maldade e veneno. Sua grande amiga, que era sua mãe tinha encontrado o descanso eterno já tinha alguns anos. Marcelo refez sua vida, casou-se com Claudia e tinha uma filha adolescente de catorze anos que era um amor de menina. Em suas orações, seguindo os passos de sua mãe consagrava sua família a Nossa Senhora Aparecida que o livrara outrora das mãos malvadas daquela terrível mulher.