A caneta viajada.

Entre eles havia uma caneta brinde do hotel. Silenciosamente cruzava o país via SEDEX, indo e voltando em ocasiões especiais como aniversários, Natal ou datas significativas para os dois. Entre presentinhos, doces, bilhetes, lá estava ela, silenciosa e tão significativa, como que a lembrar um momento único, trazendo sentido e sentimento. Jamais era usada na óbvia, simples e banal utilidade para que foi criada: escrever. Destina-se exatamente a ser encontrada em uma gaveta, e acompanhar uma encomenda.

O tempo que regula, dosa e equilibra todas as coisas, arrefeceu o fogo, mantendo carinho, cuidado e atenção: amizade!

Após uma década, ela encontrou entre suas recordações a caneta que há anos deixara de viajar. Não fazia mais sentido encaminhar ou relembrar a ele. Hoje era um carinho só seu. A prova material de que um dia houve algo único, breve, intenso e inesquecível como as flores raras de um vaso que por dias coloriu e perfumou uma sala, tornando-se quadro.

Finalmente a caneta foi utilizada, fazendo diferença em assinaturas ou anotações, o nome do hotel descorou em poucos dias, e a tinta foi usada até o final.

Agora vazia, um objeto como milhões de outros, destinado ao descarte. Ainda assim seu olhar denuncia carinho e respeito, enquanto a mão se direciona para a lixeira.

Letranda
Enviado por Letranda em 27/11/2018
Reeditado em 10/12/2018
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