Afinal, quem é a vítima?
Eram duas horas da madrugada quando saí da festa. Estava a pé, pois havia bebido alguns drinques e, por isso, caminhei até a quinta quadra – onde fica a minha casa.
Ao subir as escadas, percebi que havia manchas vermelhas nos degraus... então resolvi avisar ao porteiro o que tinha descoberto.
Assim que pôde, ele veio averiguar o que poderia ter acontecido.
Eu já estava quase indo pra cama quando ouvi um grito agônico, que ecoou pelo corredor do meu andar.
Assustado, peguei minha pistola e abri a porta pra ver o que era...
Nisso, Marcos, o porteiro, chegava ofegante com um revólver calibre 38, enquanto um indivíduo pálido como um lírio caía na nossa frente.
- Não fui eu!
Dissemos juntos em desespero.
Quando começávamos a discutir, a polícia chegou, avisada não sei por quem e nos deu voz de prisão.
Desesperado com aquilo tudo, fiz ameaça de me matar, mas bruscamente um dos agentes me jogou no chão e as algemas não pestanejaram em me prender.
Na viatura eu chorava como um bebê querendo o colo da mãe.
Ao chegar na delegacia, para meu espanto e alívio simultâneos, a solução dos céus foi providencial: o suspeito do crime havia sido descoberto por Gioconda, a síndica do nosso prédio, que bisbilhota toda vida alheia; e, felizmente, no arroubo das emoções, o criminoso, de apenas treze anos, confessou a autoria do tiro.
Era, segundo ele, um acerto de contas, uma pequena vingança em honra de sua mãe, que fora humilhada pelo baleado quatro anos atrás.
Enquanto confessava ser culpado, o garoto contava, entre um soluço e outro, que o motivo da vingança, arquitetada com frieza e rancor, foi o fato de sua mãe ter sido chamada de macaca suja, quando ela estava recolhendo o lixo da residência da vítima. Ela era gari na época.
Mas eu tinha uma dúvida e ficava me perguntando ao voltar pra casa, livre daquelas grades imponentes de uma das celas da delegacia:
- Quem é a verdadeira vítima na história? O menor? A mãe dele? O baleado? Ou eu, que quase fui parar no xilindró por engano?