Pôr do sol
Sou do tipo excêntrica: não gosto de tomate, tiro a salsicha do cachorro-quente e como primeiro o miolo do pão. E gosto dos pores do sol no verão. Quando estive em Jericoacoara, pude presenciar uma cena muito agradável. Ao final do dia, depois do último feixe de luz que não conseguiu mais desviar do mar, ouvi as palmas de dezenas de pessoas presentes naquela duna. Estavam todas ali esperando, exatamente, aqueles instantes finais. Nesse momento, lá de cima, senti saudade. E quem não sentiu o mesmo? Maria sentia saudades da juventude, daquelas pernas fortes que a deixavam correr pela orla de Fortaleza; Creuza, que tinha pernas fortes, sentia saudades do João, que a trocou por uma dançarina do Pirata Bar. Adamastor do coco gelado sentia saudades de quando o coco dava mais lucro. Bento não sentia saudades de nada. Estava ali, bem quietinho, porque a vó prometera um picolé de açaí. E aquele pôr do sol foi se mostrando como numa tela de Picasso. Único.