"PIC - UM CACHORRO MUITO ESPECIAL"
PIC – UM CACHORRO MUITO ESPECIAL
PIC foi um cachorro que apareceu em nossa casa, no ano de 1977, quando morávamos na rua Padre Roma, no Lins de Vasconcelos. Estava mal tratado, doente mesmo. Então comecei a dar-lhe comida e ele estava sempre em nossa varandinha, já que o portão vivia aberto. Meu filho Luis, que tinha então 9 anos, ficava incomodado com o cachorro e não saía mais de casa. Tive que tomar uma providência. Pedi ao Antonio José, meu filho mais velho de 13 anos que o levasse a pé até o Méier e o deixasse por lá e voltasse de ônibus. Depois de algum tempo o PIC estava, novamente, em nossa porta. Fiquei muito impressionada com o fato e tomei outra providência. Resolvi que iria ficar com o PIC, pois, realmente, ele tinha nos escolhido. Rosinha , minha filha de 11 anos levou-o a um veterinário que atendia em nossa rua, que diagnosticou sua doença, princípio de Cinomose, uma doença grave. O médico Dr Ivan disse que se ele resistisse ao tratamento, ficaria curado. Foram muitas injeções. Houve um dia, as crianças contaram, que só de ver a seringa com o remédio, ele desmaiou. Coitado do PIC ! Mas, no final ficou bom.
PIC era um cachorro diferente, muito especial. Era livre, solto e boêmio. Muitas noites dormia fora de casa, embora na varanda, houvesse uma casinha de cachorro, escrito encima “LAR DO PIC”. Ele entrava e saía das cenas, nos ensaios e apresentação do “Teatrinho Nosso Quintal”. E até participou do casamento de nossa irmã Penha. É um caso à parte que vou contar: Como o PIC era integrado à turma da rua Padre Roma e minha irmã havia convidado todos da rua, eu pedi a minha sogra D. Maria, que não iria ao casamento, para ficar com ele dentro de casa. Nós, da família, fomos mais cedo para a Igreja Nossa Senhora da Consolação e Correia que ficava perto, dando até para ir à pé. Passado uma meia hora, D. Maria liberou o PIC. Porém, o pessoal da rua ainda não havia saído para o casamento. Não deu outra, o PIC acompanhou aquela procissão de jovens e de repente, vimos o PIC no altar da igreja. Em seguida, banco por banco, até achar toda a família, pulava de alegria sobre nós que estávamos vestidos com nossa roupa casamenteira. Foi muito divertido, até nas fotos do casamento ele saiu.
Nesta época estávamos passando por um momento delicado, tanto financeiro quanto econômico. Não tínhamos carro e aos domingos quando íamos fazer algum passeio, ele nos acompanhava até o ponto do ônibus que ficava a umas três quadras, esperava na calçada a gente embarcar e depois ia sozinho para a casa do Vô Ducy e Vó Dida, que ficava duas ruas acima. Ficava lá até anoitecer quando voltava para nossa casa. É difícil de acreditar, mas é pura verdade. Por isso o Vô Ducy gostava muito dele. Até fez uma poesia quando ele não resistiu a um atropelamento de motocicleta na rua Cabuçu, esquina de Verna Magalhães. Chegou, ainda com vida, mas o veterinário que o curou uma vez, não conseguiu reanimá-lo.
PIC foi sepultado no Cemitério de Animais, na Mangueira, e junto dele, Vô Ducy colocou a poesia feita em sua homenagem:
ADEUS AO PIC !
Trouxestes alegria a nossas vidas,
Tu foste companheiro dedicado.
Partilhavas de todas nossas lidas,
Por nós todos tu eras muito amado.
Seguias teus amigos a passeio
Maneira de mostrar tua amizade
Nossa separação de forma veio,
Ficou a dor imensa da saudade.
Eras o amor em forma de cachorro,
Que a nós vieste em busca de socorro:
Tiveste um lar que foi o “Lar do Pic”.
Eras livre, vivias pela rua
Foi nela que morreste, ó sina tua!
Tua lembrança em nós pra sempre fique!
Em, setembro de 1978