Transformando sentimentos
Em uma manhã de inverno e tempo frio, ao sair para o trabalho chovia.
Descendo a rua havia um ponto de ônibus bem próximo ao prédio.
Lá chegando dei com a vista vi vários colegiais juntos agasalhados com guarda-chuva.
Um pouco afastada lá estava uma menina aparentemente de uns 8 anos magrinha, com
uniforme encardido da rede pública parecia tão desolada na chuva, sem guarda-chuva.
Ela não era do bairro e nunca a vi por ali, o ponto de ônibus cheio de pessoas.
Era só uma criança, ninguém acolheu a menina, ficou na chuva.
Imediatamente fui até ela pedi para ficar comigo debaixo do guarda-chuva.
Deu um sorriso amarelo sem graça, estava tremendo.
Ficamos por um bom tempo na chuva esperando o ônibus.
Questionava-me o porquê de atitudes como esta? Discrepância e intolerância.
As pessoas perderam a sensibilidade, muito se fala em respeitar as diferenças.
Será que alguém acredita mesmo nesta mitologia?
Porque será que aquela criança de cor negra tão indefesa ficou na chuva?
Estava indo para escola, se ela tivesse um guarda-chuva estaria usando.
Cadê o amor ao próximo? O mestre Jesus disse: Ama teu próximo como a ti mesmo.
Por fim meu ônibus chegou, deixei o meu guarda-chuva para ela, seus olhos encheram de lágrimas.
Olhos grandes e tristes, tomei o frescão em silêncio permaneci, porque é assim?
A ilha de sentimentos me arrastou de encontro ao dela, ali nos despedimos e seguimos.
O olhar da menina, este nunca esqueci, no semblante o discurso de uma vida de incertezas.
Ela faz parte de mim, e esta na mesma luta buscando evoluir, a ilusão materialista e entorpecida de achar que somos melhores do que o outro, da separação de sermos separados.
É inadequado, distorcida e preconceituosa o descaso com os menos favorecidos.
A desigualdade é tão grande como a ignorância das pessoas.
O caminho é o inicio da longa jornada, assim é a vida cheia de encontros e partidas.
Em algum lugar ou momento do tempo, sou aquela criança.