Mein Kampf
Faz quase uma semana desde que abri o primeiro livro na minha vida, e nem sei exatamente por que o fiz. Lembro-me bem que passei pelo corredor da nossa casa, e a porta do escritório do meu pai estava aberta, entrei com a intenção de pedi-lhe algumas moedas para doces, afinal, uma manhã de feriado sem doces não merece ser chamada assim, mas o comodo estava vazio, o que é estranho, já que papai sempre o fecha antes de sair, de qualquer modo, estava lá dentro e o vazio daquele espaço parecia ser totalmente preenchido pela luminosidade fantasmagórica do abajur, este ultimo, estava aceso e refletia na estante repleta de livros.
Papai nunca me deixou chegar perto daquelas obras, sempre dizia que era pequeno demais, mas havia alguns dias que ele próprio notará meus centímetros mais alto, e é claro, meu bom desempenho na escola, o que indicava que talvez eu já estivesse pronto.
Aproximei-me da estante, eu só ousava olhar os títulos de perto, nada de tocas-los, até que uma obra em especial me chamou atenção, pelo brilho opaco e por me recordar que papai sempre o lia antes de ir para a cama... Sem pensar muito bem, o peguei e comecei a folheá-lo, de inicio não entendi muita coisa, mas acho que falava em como não devemos aceitar nosso inimigos, e devemos os enfrenta-los etc.
Fico um pouco com medo, aquelas palavras parecem pouco elogiosas aos judeus... Minha antiga professora era judia, e a garota que eu gosto também, o que me faz pensar em como elas reagiriam se pudessem me ver naquele momento, provavelmente muito tristes. Não entendo como papai fica lendo essas coisas..., por fim, decido deixar aquele livro no lugar que estava e saio para andar um pouco de bicicleta, no caminho não paro de pensar: Que bobão esse tal de Adolf Hitler.
ALEMANHA, 1926.
Thiago Campos