Precisamos ser fortes...

Eu acabava de voltar do trabalho. O sol já estava quase sumindo no horizonte, quando passei em frente a uma universidade, havia ali um tumulto. Alguns alunos (pelos, menos, era isso que me pareciam) estavam espancando uma outra pessoa que estava estatelada no chão. Não pude reconhecer quem era, parecia-me uma homem pouco mais velho do que eu, na casa dos seus quarenta anos. Confesso que me senti um tanto animado mesmo assim, achava que trata-se de algum estuprador, ou ladrão, que ali havia sido pego em flagrante, e como é de costume, e que esta última apenas amaciava sua carne para a chegada da polícia. Foi então que uma das mulheres que ali estava proferindo xingamentos ao moribundo, me viu e convidou-me à participar das agressões, que eram obrigação cívica, segundo ela. Disse-me que o crime pelo qual haviam dado início aquela surra coletiva foi o acusado está distribuindo panfletos contra o atual regime, o que nos tempos de hoje é bastante perigoso. Quando cheguei em casa com as mãos ainda sujas de sangue e doloridas, percebi que este já era o quinto ou sexto espancamento que participo em minha pacata cidade... Deus sabe o quanto precisamos ser fortes.

(ALEMANHA, 1941.)