A CAVERNA

Venho procurando, há pelo menos sete anos, encontrar alguma explicação para um sentimento de fúria ao que fizeram com a arte na minha cidade. São Vicente. Abandonada pelos seus gestores. Cidade suja, tudo destruído. Arte inexistente. História apagada. Todos monumentos destruídos. Enfim, uma balbúrdia geral.

Percebi, rapidamente, logo no primeiro ano de estudos, que o problema não era só na cidade de São Vicente, litoral de São Paulo. O problema era no Brasil.

E que problema era esse, afinal? Era na educação.

Mas, já no segundo ano, passei a entender onde encontrar a solução.

Devo isso a grande amigo meu que me disse que eu, apesar de ter bastante conhecimento sobre diversas áreas, não conseguia expressar muito bem minhas ideias.

Quando escutei isso, eu que sempre dei aula na minha vida, fiquei aturdido. Desesperado, talvez seja a palavra mais correta. Senti-me sem chão. Mas resolvi escutá-o.

Passei à busca de algo diferente. Decidi que precisava aprender sobre métodos atuais de educação para se formar homens e mulheres de verdade. Afinal se estavam destruindo tudo, sem preocupações, sem se perceberem disso, algo tinha acontecido com a humanidade delas. Com o senso de beleza, talvez. Mas na época isso ainda não estava tão claro assim.

Então pesquisando vídeos na internet, achei alguns sobre educação clássica e artes liberais.

A partir daquele momento, pois, abriu-se um oceano infinito, a se perder no horizonte de possibilidades visíveis. Havia muita coisa alí.

Na educação clássica percebi que havia uma forma de educar para treinar o homem não sem valores, mas, ao contrário, repleto de valores, que consistiam nas virtudes que eram o segredo dos grandes heróis.

Depois, percebi que a educação clássica passou a usar-se de um método, o das artes liberais. As sete artes da mente ou da expressão, linguagem (o Trivium) e da matéria ou do número, espaço (quadrivium). Tratava-se da descoberta do segredo completo.

Porém, depois disso, e aí já se tinham passado, cinco anos, percebi que estava sozinho. Como Platão no mito disse: tinha saído da caverna. Porém, como no mito, a luz estava forte. E eu precisava me acostumar com um mundo novo de descobertas e ideias verdadeiras que estavam sendo ocultadas na caverna das sombras. Lá dentro, com outros amigis e familiares, eu apenas via o produto de mentes.

Nesse ponto, ainda que tivesse saído da caverna, não podia perceber quais eram as verdadeiras mentes que produziam as sombras.

Fora, adaptado que já estava (e lá se foram seis anos desde o início da narrativa) eu percebi dois tipos de pessoas produtoras dos reflexos da caverna: as bem e as más intencionadas. Explico. Nesse mundo de novidades e de homens e mulheres que conhecem a técnica de se produzir arte, há aqueles que a utilizam para não passar valores e há aqueles que querem passar esses valores a outros.

É simples assim. Mas o problema é que não é tão fácil lidar com essas pessoas. Porque a partir de então você está vendo as pessoas manipulando as outras. E aí, as coisas se complicam.

Dentro desse panorama, resolvemos criar um grupo que se reúne para produzir, pois, essa boa arte e não brigar com esses maus.

Ate aí tudo bem. Sei que aí se vai uma vida pela frente.

Eu e meus amigos...

Um bem maior....

Eu...

Minha família...

Nossas famílias...

Nossa cidade...

Nosso país....

Mas há algo interessante nessa história toda. Os da caverna. E se eles não quiserem sair?

Como ficaria essa bela equação do segundo grau nas artes liberais?

Mandei essa mensagem a um amigo do grupo.

Ele, apelidado de Sam, leitor de Ortega Y Gasset, me disse:

-Talvez, parceiro, considere um terceiro ponto, uma terceira opção.

-Ah, já sei! (Eu sempre interrompendo) Como não pensei nisso? A arte do quadrivium, diz que o número do 3 é o equilíbrio... é isso!!!

-Entao -disse Sam. -Nao é bem isso! Talvez, amigo, é necessário como na metáfora do bosque do livro meditações do Quixote do Ortega, é necessário existirem as árvores.

-Sim, é verdade. Eles são as árvores. Nós o bosque, é verdade.

-Sim, mas acho que você mesmo pode aplicar o que me falou.

-Como assim, Sam. Diz logo, cara!!!!

-Voce se esqueceu que não nos cabe tirar da caverna. Cabe apenas lançar a sombra! Você mesmo disse na sua mensagem. Produzimos as sombras. Só isso que eles podem ver.

-Eureka!!!!!

Com esse entendimento, eu e meu grande amigo e parceiro, tipo Vinícius de Moraes (Eu o Vinícius porque mais velho, não porque mais sábio, confirme puderam ver acima) e Toquinho, podemos compor grandes canções.

Que nossas vidas sejam marcadas como grande exemplo de parcerias.

Seja numa sinuca bem jogada, seja numa noite de conversas, seja como na história real da eterna parceria musical da Bossa nova brasileira, que o Vinícius foi encontrado falecido, trancado dentro do banheiro de Toquinho, que a amizade seja eterna, numa parceria para o bem dos tristes habitantes da caverna, sejam os de São Vicente, sejam os do Brasil.

Alexandre Scarpa
Enviado por Alexandre Scarpa em 04/10/2018
Reeditado em 05/10/2018
Código do texto: T6467891
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