Conto das terças-feiras – Escapando de um assalto
Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 25 de setembro de 2018
Naquela manhã acordei com preguiça de dirigir. Já passava das nove horas e eu sabia que precisava ir ao banco, retirar dinheiro para alguns pagamentos que eu não podia fazer por transferência ou depósito, por boleto bancário ou mesmo cartão de débito/crédito. Eu precisava de dinheiro em espécie.
O banco fica próximo à minha casa, setecentos metros, para ser mais preciso. Resolvi ir a pé, enfrentando o sol escaldante daquela manhã, exageradamente iluminada. O calor queimava minhas costas que ardia muito, mas não me deixei entregar, eu sabia que estava queimando algumas calorias que me sobravam ao redor da cintura. Procurava eu alguma sombra e naquela rua não tinha, não havia árvores e as casas são de dois andares, no máximo, não impedindo que o sol invadisse as calçadas, despudoradamente, a partir das onze horas.
Já com o dinheiro em mãos, procurei dividi-lo entre os quatro bolsos de minhas calças para não fazer volume e assim atiçar a cobiça de algum desavergonhado espertalhão, um punguista, um assaltante. Antes separei dez reais e coloquei no bolso esquerdo de minha camisa. Sai do banco olhando de um lado para outro, procurando ver se alguém me seguia. É o cuidado que todos devemos ter quando saímos de um banco carregando dinheiro. Atravessei a rua e sentei-me em um banco localizado no espaço coberto da parada de ônibus. Eu resolvera voltar de coletivo, o calor agora era mais forte e eu não iria suportá-lo.
Alguns minutos depois um rapaz sentou-se ao meu lado e, com voz mansa, pediu-me dinheiro para pagar uma passagem de voltar para a sua cidade, alegando que acabara de ser assaltado. Depois do susto, respondi-lhe:
— Eu só tenho dez reais e os usarei para pagar a minha passagem de ônibus. Nada mais tenho, fui ao banco saber se o dinheiro da bolsa família de minha mulher já estava disponível. Não estava.
Eu queria deixar claro que estava quase na mesma situação daquele rapaz que me interpelava. Mas ele insistia em fazer perguntas sobre a minha pessoa.
— O senhor mora aqui perto?
— Não, eu moro na praia do futuro, trabalho em uma barraca de praia, como garçom, menti-lhe, para encerrar por ali a nossa conversa.
Ele procurava saber mais sobre mim e a insinuar que eu devia ganhar muito bem, principalmente pelas gorjetas recebidas.
— Eu trabalho em uma pequena barraca, minha esposa lava roupa para algumas madames, para ajudar nos gastos da casa, menti-lhe novamente.
Eu já estava impaciente, ele não parava de perguntar, o ônibus não chegava. Só eu e ele naquela parada de ônibus, ambos sentados no mesmo banco, ele se mexia muito e às vezes tocava o seu braço em mim. Também impaciente ele tentava estudar as minhas reações. Eu já sabia que seria assaltado, desconfiava que ele vira, pelo vidro do banco, eu distribuir o dinheiro em meus bolsos.
Era preciso que eu estivesse preparado para a próxima investida de meu algoz. As estratégias até agora haviam falhado, eu precisava vencê-lo de qualquer maneira. Então lembrei-me que, pela minha idade, eu não pagava passagem de ônibus. Tirei os dez reais que estavam no bolso da camisa, passei para a mão dele, abruptamente, e me preparei para pegar o ônibus que estava se aproximando. Ele tomou um susto, se apavorou e saiu correndo. Subi no ônibus, rapidamente, pela porta da frente sentando-me no banco, por traz do motorista. Este, por sua vez dirigiu-me a palavra:
— O senhor foi assaltado pelo rapaz que saiu correndo?
Minha resposta foi, não!
— Ele costuma assaltar as pessoas que saem daquele banco, principalmente os idosos, isso quase todos os dias, completou o motorista.
Fiquei calado, não queria deixar claro que eu carregava dinheiro em meus bolsos. O percurso a ser percorrido até a rua que dava acesso à minha casa era curto, apenas mais cinco paradas adiante. Era possível que dentro do coletivo houvesse um comparsa ou outro assaltante qualquer, que poderia me seguir e eu poderia ser realmente assaltado. Cheguei em casa aliviado, com o dinheiro nos bolsos, mas tremendo de medo, pelo risco que correra.