AMIZADE ETERNA
Wiliam Rubens detestava ter que fazer o que iria fazer. Visitar seu amigo depois de ele ter mais um ataque de baixo astral.
Mas iria mais uma vez retirá-lo da cama e fazê-lo acordar para a vida, pensava.
Então vestiu a camiseta regata mais aberta que possuía; seus gigantes deltóides precisavam estar à mostra, afinal iria tomar ônibus, cheio de perfume daqueles que parece que acabou de sair do banho, e as gatinhas adorariam. E ele sorria a elas até se desmancharem, pegaria o telefone delas (poderia ser mais de uma no dia. Ou não, talvez uma porque semana passada não tinha agüentado sair com aquelas oito. Duas sim, mas as outras seis pareciam só ficarem se lamentando dos amigos, amigas, filhos, na orelha dele. Arf!).
Decidiu, pois, que dessa vez, seria apenas uma. Dedicar-se-ia melhor a ela e quem sabe, passados três meses, pudesse sossegar um pouco com uma. Namorar um pouco, andar de mãos dadas? E depois se separaria. Elas sempre se tronavam chatas, pegajosas!
Wiliam pegou a carteira (nem checou se havia camisinha ali, não precisaria dessa vez, pois iria apenas ver seu amigo), tomou um banho de perfume e partiu.
O ônibus veio tão rápido. Nem pode ver a reação da senhora que passava dentro do carro e o olhava. Seus ombros estavam chamando mesmo a atenção. Sempre funcionava. Peito e ombro. Obrigado Ferreira, pela dica, lembrou do amigo metido em várias encrencas criminais e cíveis que era seu mentor inspirador com as mulheres.
Dentro do ônibus só macho, só homem fedido mesmo. Tinha um babaca que o olhava, cara de funkeiro (ah, como ele odiava funkeiros. Eram vermes que se escondiam atrás de bonés e metidos a malandro que não agüentavam um soquinho seu. Batera em várias só na semana passada porque o olharam feio). Mas dessa vez não o socaria. Dessa vez seu amigo o esperava e não queria ir a delegacia, quem sabe. O motorista do ônibus tinha cara de encrenqueiro. Um senhor de bigodes espessos, lembrava-lhe seu pai. E seu pai era um militar bravo. Bem, o motorista era mesmo bravo, concluiu.
Então somente lançou um olhar não tão ameaçador ao funkeiro, uma mensagem de “salvo pelo gongo” e se sentou.
A viagem foi curta, cerca de vinte minutos, de Praia Grande a São Vicente.
Já na sala de seu amigo Jonas, sorriu.
- Vai vestir a roupa, cara. Vamos treinar! (Jonas parecia ter ficado uns três dias sem fazer flexão e precisava detonar aquele peitoral, caramba! Será que não via aquilo?)
-Opa! (O sorriso do amigo era tão contagiante que Jonas já sentiu o peito estufar de alegria. Meu amigo! Ele chegou! Estava lendo tanta coisa de concurso público que acho acabou me desanimando. Mas ele veio, ele se preocupa comigo!)
Vinte minutos depois, os amigos estavam fazendo cooper.
A vida tinha novo significado aos dois.
Sempre juntos tudo fazia sentido. Tudo se transformava.
Tudo se adiava e só aquilo valia à pena. Tudo fazia sentido (Wiliam).
Passaram-se alguns anos (ele não podia se lembrar quantos) e Wiliam se via olhando as grades da prisão. Sentado na cela isolada, ele disse ao vento:
-Meu amigo, meu amigo. Porque nos separamos? Por quê se apegou àquela moça e se casou com ela. Tudo era perfeito, meu amigo!