A SOCIEDADE DOS BOCAS DE ABÓBORAS
Eram muitos, de várias formas, tamanhos, cheiros, manias e personalidades, só uma coisa os faziam viver como que numa seita, os tornavam comuns: as bocas de aboboras. Para se comunicarem os locutores usavam sementes no lugar de palavras. Para saber o que as sementes queriam dizer, os alocutários tinham que plantá-las e esperar, dando a elas tempo e todos os cuidados que um bom agricultor poderia dar a sua plantação. Ao chegar o tempo de colher a comunicação que o outro fizera, preparavam-se com todas as ferramentas necessárias. Realizavam a colheita. Faziam a separação por tamanho, cor, peso, cheiro e quantidade. Cada comunicação se revelava a medida que eram preparadas pelo alocutário. O incrível era ver que ao final, na hora da revelação, tudo que se comunicavam eram abobrinhas. Fugacidade pura em uma sociedade tão comprometida com o discernimento das comunicações.