Baco (amor fati)
Tropeça bambeia na queda abissal onde as pernas adormecem e os olhos sequer fecham para afagar a colisão. Simplesmente não dá. Então vai apreciar o nano-momento do impacto da testa na parede que criaste, e me gritará, mesmo sendo eu o motivo da dor. Inclusive, por que foge de mim? Se somos "isso" em conjunto? E sabes que quando digo "isso", me refiro a esse pedaço malfadado da gente que gastou um inverno inteiro tragando fumaça pelas ventas do desespero silencioso, igual criança iniciada no açúcar: Quer enfiar a boca em tudo quanto é buraco, inventa rotas inéditas com a língua seca, se mutila de prazer sozinho até aparecer outra criança para dividir o doce da vida, e não vai ter. Nem língua, nem pirulito, nem buraco. Nenhum açúcarzinho.
Tu sozinho é o responsável por essa mão trêmula e esse peito agoniado? Ou seríamos todos réus confessos? Precisamos harmonizar, rapaz. Achar um compasso de base para bailarmos sem deixar o vinho cair, degustando o que a vida empurra sem fazer careta.
Amargo é bom pra te tirar do drama. Amargo é bom pra nos botar no mantra.
"Dissabor" rejeitado desde o primórdio da memória, amargo é o entendimento a partir da frustração com o raso do agridoce, o limite do apimentado e o comodismo do amor mal vivenciado (lê-se azedo). Próprio e dos outros. Amor mal cultivado-melado-romântico adestrado no chicote Hollywoodiano que azeda conforme a primeira nuance de realidade dá as caras. Então a gente chama esse chorume de dor, e chama essa dor de amargo.
Eis aqui a prova cabal da ingratidão do ser humano para com ele mesmo.
Vivência é vinho. Sejamos Baco.