Cigarretes
Ele fitou o céu de uma noite insossa. Não havia o brilho das estrelas, estavam ofuscadas pelas luzes da cidade, assim como velhas dores, tiram o brilho dos olhos. Não havia paixão, mas um sentimento de comiseração. Por tudo e por nada. Só queria sentir algum tipo de prazer. Queria demolir a parede de silêncio, repleta de retratos. Amarelados, fantasmas enquadrados. Em outrora, ele pensaria que, os corações perdidos naquela noite, estariam assim. Bobagem! Um devaneio típico de uma pessoa utópica. Considerava o Quixote em si, morto já algum tempo.
O tempo estava como deveria estar. Sem romantismo, apenas algo para atrapalhar. Com seu olhar lúgubre, ascendeu mais um cigarro. Chegando em uma esquina deserta, começou a pensar que as pessoas entravam em sua vida como aqueles cigarros. Ele cheio de vontade, as acendia com uma pseudo calidez barata e funcional, para o que pretendia. Elas ficavam acessas em brasas, e ele as consumia, saciando vontades, usando-as como uma válvula de escape. Até que no possível êxtase, elas tornavam- se uma guimba. Desinteressante, sem o fogo. Sendo deixadas em alguma sarjeta. Que venha o outro cigarro. Deprimente? Sim! Mas era o normal em uma noite como aquela. Quantas vezes, como Quixote e, ainda hoje, era tratado como um cigarro. Achou graça em pensar ser visto algumas vezes como tal. Um importado. Ensaiou um leve sorriso que logo foi sufocado ao pensar em alguém. Será que o Quixote está realmente morto? Afastou a lembrança com outro cigarro.