Texto 1

Toco a janela do meu quarto, e sinto o frio que reina pelas ruas desta madrugada de domingo. Ao abri-la, sinto a plenitude de um domingo que será nublado. Deslumbro o canto triste dos pássaros, diante daquele cinza fascinante. Raul Seixas, sintetizou o tédio que é um domingo com céu cor de anil em sua canção SOS. O corriqueiro. O padronizado. A solidão de nuvens passageiras que cortam um céu de brigadeiro. Sinto a verve da liberdade em “dias sombrios”. Quem me dera essa liberdade, que desaba na solidão, fosse de uma vida efêmera, assim como dessas nuvens ou das borboletas. Dentro deste contexto, somos quase eternos. Cem anos de solidão em uma única vida.

Meus cotovelos doem. O presságio de uma possível tendinite. Resultado de quem passou horas lendo um livro deitado no conforto de uma cama. Utilizando-se da claridade parca emitida pela tv, embriagando-se no sangue poetizado de um jovem chamado Bob Dylan. Doses de Tarântula. E, no revezamento de doses e visualizadas no WhatsApp, vejo que algumas pessoas decidiram ficar longe de seus quartos tão solitários e deprimentes. A madrugada de sábado para domingo é algo sedutor. Representa a fuga do padronizado da semana. A fuga daquele céu cor de anil idealizado para um domingo. O passeio no parque necessário para a manutenção de alguns pseudocasamentos. A realidade é que tudo desaba em solidão.

A luta, inconsciente, contra a solidão é a mesma, tanto para quem está no quarto escuro, como para aqueles que estão apreciando a noite. Uns buscam a liberdade em páginas frias com doses de sangue poetizado para esquentar a alma, outros em noites badaladas tomando drinks de cores hipnóticas, tocando corpos frios em busca de um calor acolhedor.

A claridade do dia invade meu quarto, percebo que o céu nublado será passageiro. Vejo a plenitude esvair lentamente, assim como a euforia daqueles que estão voltando para casa. Sentindo os primeiros sinais da ressaca.

Perdemos a batalha.